1 – Alguns defendem que o Batismo infantil não tem efeito, porque nenhum pecado possuem1 os recém-nascidos e criancinhas de pouca idade.
2 – Soma-se, que não há nas Escrituras, menção de crianças sendo batizadas.
3 – Por fim, aquele que crê, e for batizado, será salvo2, no que se pode entender que o Batismo não pertine às crianças, dada impossibilidade delas crerem.
MAS EM CONTRÁRIO:
EIS QUE NASCI NA CULPA, MINHA MÃE ME CONCEBEU NO PECADO.” (Salmo 50.3)
SOLUÇÃO:
Se a culpa, que nos priva da condição de justos diante de Deus, nos atinge nos primeiros instantes da vida, é certo que passamos a necessitar, e nos tornamos aptos a receber a graça que nos isenta dessa culpa à partir dos primeiros instantes de vida.
Ensinou Agostinho3, que se debaixo da reprovação de Deus, e sob o império da maldade nasce todo ser humano, há então um efeito, o resquício da revolta de Adão contra Deus, o qual nos é transmitido indistintamente, desde a concepção, antes de rompermos o ventre materno.
Esse efeito, chamamos PECADO ORIGINAL, que atinge a todos, independente da idade, vontade, ato ou consciência, como diz o Apóstolo:
“[…] SE POR UM SÓ HOMEM ENTROU O PECADO E A MORTE NO MUNDO, ASSIM, A MORTE PASSOU A TODO GÊNERO HUMANO, PORQUE TODOS PECARAM.” (Romanos 5, 12)
Pecado original é ausência de comunhão com Deus, que atingiu Adão e Eva, após a desobediência, lhes corrompendo a natureza, criando desordem entre alma e corpo, privando-os da inocência e justiça nas quais foram criados, e nas quais lhes era permitido ver Deus FACE A FACE.
Tal condição se transmitiu aos descendentes desse primeiro casal, pois os nascidos de Adão, devem ser considerados numa só humanidade, por terem a mesma natureza herdada do pai, e constituírem membros de um só corpo.
Como não pode existir membro separado do corpo, não há ser humano, nascido dentro das regras naturais, no qual não esteja presente a humanidade adâmica degenerada4.
E se a doença do corpo atinge todos os membros:
“[…] NÃO HÁ UM JUSTO SEQUER. TODOS SE EXTRAVIARAM.” (Romanos 3. 10 e 12)
Nisso então, se responde as questões acima:
1 – O pecado está no ato e na condição humana, e por ato pessoal, é certo que as crianças não podem pecar, porque não atingiram a idade da razão, e, portanto, não podem escolher agir mal ou bem.
Mas em relação a condição, é indiscutível que os que são gerados na humanidade adâmica, nascem privados da inocência que Adão perdeu ao se deixar corromper5, privação essa, que alcançou aos seus descendentes6.
Por isso, trazemos em nós o pecado original desde a concepção, na condição de separados de Deus, como filhos espirituais ainda não gerados7, e, portanto, ainda não reconhecidos pelo Pai. Ora, se sem consentir, recebe a criança ao nascer o pecado de Adão,8 não devemos privá-la de receber as virtudes gratuitas de Cristo por ausência de consentimento:
“[…] COMO EM ADÃO, TODOS MORRERAM, ASSIM TAMBÉM TODOS SERÃO VIVIFICADOS EM CRISTO.” (I Coríntios 15. 22)
O Batismo é o SINAL da humanidade redentora de Cristo, que nos chega pelas águas para nos remover a reprovação que recebemos pela natureza adâmica assumida, a qual, desde o inicio de nossas vidas, nos faz “[…] IMPUROS TODOS NÓS. ” (Isaías 64.6)
Mas se “[…] FORMOS BATIZADOS, SEREMOS REVESTIDOS DE CRISTO. ” (Gálatas 3, 27); porque, “[…] NAQUELE DIA SAIRÃO DE JERUSALÉM ÁGUAS VIVAS.” (Daniel 12.7), pois “[…] JESUS É AQUELE QUE VEIO PELA ÁGUA9; (I São João 6. 6) “[…] LAVA-ME DO MEU PECADO, E PURIFICA-ME DA MINHA INIQUIDADE. EIS QUE NASCI NA CULPA, MINHA MÃE ME CONCEBEU NO PECADO.” (Salmo 50, 2 e 4)
2 – Se inexiste narrativa de crianças batizadas, do mesmo modo inexistem de mulheres tomando a Ceia do Pão e Vinho, sendo esta, instituída apenas entre Jesus e os Apóstolos, todos eles, obviamente, homens.
Todavia, Cristo ordenou sem acepção:
“[…] TOMAI E COMEI TODOS VÓS10”, e, “[…] IDE, E BATIZAI TODAS AS NAÇÕES.11”
Disso a Igreja tira a certeza que, assim como a Eucaristia não fora proibida às mulheres, o Batismo também não fora proibido às crianças. Tudo que Deus proíbe, ele o faz sem deixar dúvida, para que ninguém, maliciosamente, alegue ignorância.
Além disso, há nas Escrituras, a menção de Batismos de famílias inteiras, com o batizado e “toda sua casa,” como Cornélio (Atos 10, 1s.24.44s); Lídia (Atos 16); o carcereiro (Atos 16, 31-33); Crispo de Corinto (Atos 18, 8); e Estéfanas (I Coríntios 1, 16)
“Casa”, indica o patriarca e toda sua prole ou clã, composta por descendentes de todas as idades.
Pedro também instruiu que a promessa do Batismo era:
“[…] PARA VOSSOS FILHOS.”
Filhos”, no grego, tiktó (τέκνοις), significa AQUELE QUE FOI GERADO DOS PAIS, INDEPENDENTE DE SUA IDADE.
Esse termo grego, inclusive, é usado comumente, inclusive, para se referir aos recém-nascidos destinados à circuncisão.12
3 – O ser humano tem o Bem e o mal ao nascer. O mal, enquanto nascido no pecado adâmico; e o Bem na imagem de Deus inserida n’alma, onde germinará a semente da fé13 que já lhe habita.
Por isso, Jesus se refere às criancinhas como CRENTES:
“QUEM RECEBE EM MEU NOME UMA CRIANÇA COMO ESTA, É A MIM QUE RECEBE; QUEM ESCANDALIZAR UM DESSES PEQUENINOS QUE CRÊEM14EM MIM, MELHOR FORA QUE ATASSE AO PESCOÇO A MÓ DE UM MOINHO E LANÇASSE NO FUNDO DO MAR.” (São Mateus 18. 5, 6)
Ora, não se exige do batizado que sua fé seja acompanhada da razão ou conhecimento completo naquilo que crê, pois do contrário, também não poderíamos batizar aqueles que apesar de atingido a idade da maturidade, e possuindo fé, não tiveram instrução suficiente para conhecê-la de maneira mais profunda.
Por direito, o Batismo pertence mais às crianças que aos adultos, porque aquelas, tendo o pecado original, ainda não praticam pecados pessoais e voluntários.15 E tendo direito ao Reino do Céu, como não teriam ao Batismo que é a chave que lhes abre a porta para esse Reino?
“[…] FOSTES BATIZADOS, FOSTES REVESTIDOS DE CRISTO.” (Gálatas 3, 20) “TODO AQUELE QUE ESTÁ EM CRISTO É UMA NOVA CRIATURA.” (II Coríntios 5, 7)
“QUEM NÃO NASCER DE NOVO NÃO PODERÁ VER O REINO DE DEUS;” (São João 3.4)”
“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: QUEM NÃO RENASCER DA ÁGUA E DO ESPÍRITO NÃO PODERÁ ENTRAR NO REINO DE DEUS.” (São João 3. 5)”
Nisso se compreende então, essas palavras:
“DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS, NÃO AS IMPEÇAIS PORQUE O REINO DE DEUS É DAQUELES QUE SE PARECEM COM ELAS.” (São Lucas 18. 15)
O Batismo fertiliza a fé com a qual nascemos, para que na fase adulta cresça, se torne árvore e dê frutos abundantes na bondade.
Ensinou Agostinho:
“AOS PEQUENINOS, A IGREJA EMPRESTA OS PÉS PAR VIREM, O CORAÇÃO PARA PROFESSAREM A FÉ E A LÍNGUA PARA CONFESSÁ-LA NO BATISMO”.16
1 A negação do pecado original nas crianças é uma teoria surgida na seita dos pelagianos (425), e, posteriormente revigorada, na época do protestantismo, pelo anabatismo (1.525). Contra essas ideias, se contrapôs acertadamente a Igreja, no Concilio de Éfeso (431) e no Concílio de Trento (1.546)
2Mc 16. 16.
3Sermão da Ressurreição, ano 397, Ontologia dos Santos Padres. Ed. Paulinas. SP 1979.
4AQUINO. Santo Tomás. (Suma Teológica Q 81 art. I Livro Ia- IIae Pars) Por óbvio, as exceções são JESUS CRISTO, que descende de Davi pela carne, e consequentemente, descente de Adão como primeiro ascendente da raça humana, e a Virgem Maria, que por causa da maternidade de Jesus, fora isentada do pecado desde a concepção, conforme a revelação contida na Anunciação do Anjo Gabriel:
5788. I.> Se alguém não confessar que o primeiro homem Adão, depois de transgredir o preceito de Deus no paraíso, perdeu imediatamente a santidade e a justiça em que havia sido constituído; e que pela sua prevaricação incorreu na ira e indignação de Deus e por isso na morte que Deus antes lhe havia ameaçado, e, com a morte, na escravidão e no poder daquele que depois teve o império da morte (Heb 2, 14), a saber, o demônio; e que Adão por aquela ofensa foi segundo o corpo e a alma mudado para pior – seja excomungado. Concilio de Trento. Sessão V (17-6-1546)
6789. II.> Se alguém afirmar que a prevaricação de Adão prejudicou a ele só e não à sua descendência; e que a santidade e justiça recebidas de Deus, e por ele perdidas, as perdeu só para si e não também para nós; ou [disser] que, manchado ele pelo pecado de desobediência, transmitiu a todo o gênero humano somente a morte e as penas do corpo, não porém o mesmo pecado, que é a morte da alma – seja excomungado. Concílio de Trento. Sessão V (17-6-1546)
7Necessário vos é NASCER DE NOVO. (Jo 3.7) Também aspergirei água limpa sobre você, e você ficará limpo. Vou purificá-lo de todas as suas impurezas e de todos os seus ídolos. (Ez 36.26) Eu lhe darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de você; Eu removerei seu coração de pedra e lhe darei um coração de carne. (Mt 19.24)
8Lc 20. 21 e Tg 2. 1: “Pois não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam, (Romanos 10, 12)”
9Ou ignorais que todos os que FOMOS BATIZADOS em Jesus Cristo, fomos batizados NA SUA MORTE? (Rm 6, 3)”
10 Mt 28. 19.
11 Mt 26.26-28.
12 “[…] pois a PROMESSA É PARA VÓS, PARA VOSSOS FILHOS, e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus. (At 2, 39) “an gar estin h epaggelia kai toiVteknoiV umwn kai pasin toiV eiV makran osouV an proskaleshtai kurioV o qeoV hmwn” “todo homem, no OITAVO DIA DO SEU NASCIMENTO, será circuncidado.” (Gn 17,12) “Eles têm ouvido dizer de ti que ensinas os judeus, que vivem entre os gentios, a deixarem moisés, dizendo que não devem CIRCUNCIDAR os seus FILHOS nem observar os costumes. (At 21, 20)” kathchqhsan de peri sou oti apostasian didaskeiV apo mwsewV touV kata ta eqnh pantaV ioudaiouV legwn mh peritemnein autouV ta tekna mhde toiV eqesin peripatein”
13A fé é puro dom de Deus, não é virtude intelectual, é espiritual. (Efésio 2, 8 e Rm 12. 3)
14As palavras pequeninos e crêem, foram traduções do grego micrón e pisteón, respectivamente. Micrón(μικρός) designa criança em mínima idade, micro-indivíduos de pouca ou nenhuma autonomia da vontade. Já pisteón(ίστιςεωςἡ) provém do verbo crer, que importa em confiar, submeter ou aderir, razão porque, a fé, como dom inserido na alma de todo ser humano, visando o progresso e a perfeição que os conduza a Deus, já está, como semente nos recém-nascidos,
15 Diferente do pecado original, o pecado pessoal da fase adulta, é a falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna”. CATECISMO. §1849 A definição do pecado.
16 (Q 68, art. 8º Suma Teológica. Livro III. DO BATISMO)