CEGO, SURDO E MUDO? SERÁ QUE DEUS SE OMITE DIANTE DAS TRAGÉDIAS?

1 – Afirmam alguns que Deus não governa tudo,1 pois se assim fosse, onde está Ele enquanto se massacra em Gaza, quando dos campos de concentração nazistas e nos demais genocídios da história, nos quais vidas de crianças, grávidas, idosos e adultos inocentes eram, e são ceifadas pela perversidade humana?

2 – Além disso, por nos amar, Deus celebra nossa liberdade, e por não ter ciúmes da liberdade é que Ele coloca o destino da história do mundo em nossas mãos.

3 – No mais, se Deus é soberano, por que permite o mal no mundo?

4 – Se Cristo, Filho Divino de Deus, reclamou do Pai que lhe abandonara na cruz,2 por que não nos abandonaria também à nossa própria sorte?

5 – Por fim, parece que é necessário que Deus abra mão de sua soberania para não ser responsabilizado pelo mal que há no mundo.

MAS EM CONTRÁRIO:

Deus é soberano e regente de todas as coisas, como disse o salmista:

DIZEI AS NAÇÕES QUE O SENHOR É REI. E A TERRA NÃO VACILA, PORQUE ELE A SUSTÉM. GOVERNA OS POVOS COM JUSTIÇA.’ (Salmos 95, 10)”

SOLUÇÃO:

Um governante pode agir na ação ou no silêncio.

Só quem tem poder, e é soberano no uso desse poder, não tendo acima de si autoridade maior, pode impedir ou permitir que coisas aconteçam, segundo o que lhe convém.

Seja na ação ou no silêncio, Deus sempre manifesta seu poder, glória e bondade à humanidade.

O silêncio de Deus não equivale a abandono.

Todavia, Ele não age motivado pela impaciência humana, pois incumbe só a Ele definir o momento exato de sua atuação, não sendo o ser humano quem determinará a hora e a forma da ação Divina no mundo.

Quando viajavam de navio, e sobreveio forte tempestade que afundaria a nau, os apóstolos foram buscar Jesus para socorrê-los, e o encontraram dormindo, e assim continuou até o momento que ordenou que cessassem os ventos, salvando a todos da embarcação.3

Logo, até quando descansa, tem Ele o domínio total sobre a situação e age no momento certo, de onde vem respostas aos questionamentos.

1 – Como ensina a Igreja,4 os campos de concentração nazistas e a Cruz de Cristo nos colocam diante de dois grandes mistérios:

 O ÓDIO e O AMOR.

Esses, são frutos de um terceiro:

A LIBERDADE.

Amar e odiar são atos livres, vez que ninguém pode amar ou odiar por obrigação, e quem sustenta nossa liberdade é Deus.

Deus estava em Auschwitz na glória e na justiça.

Na glória, pois todo inocente que morre pelas mãos dos perversos é um memorial da paixão de Cristo.

E ser imagem de Cristo no mundo é a maior dádiva que podemos receber.

 Eles foram batizados em seu próprio sangue ,5 e mereceram o Paraíso por causa de Cristo que estava neles em figura, assim como esteve nos primogênitos de pouca idade e recém-nascidos mortos por Herodes por causa da perseguição à Jesus, pois quem viveu a morte de Cristo merecerá a ressurreição de Cristo porque foram feitos a imagem do Filho Divino6 e Cristo haverá de ser testemunhado ao mundo também por meio deles.

Deus ainda estava em Auschwitz. enquanto justiça, pois se somos livres, é justo que usemos nossa liberdade.

Mas se poderíamos ter escolhido o amor, seremos responsabilizados pelos atos de ódio que elegemos praticar.

A justiça Divina vem no tempo certo, que não é o tempo da impaciência humana.

Por isso, bem-aventurado os que sofrem injustiças porque serão recompensados;7 e maldito o injusto se não se arrepender porque para ele haverá o fogo eterno no dia do grande juízo.

2 – Deus celebra a liberdade, porque antes celebra o amor, e o amor nasce da liberdade porque ninguém pode amar coagido.

Assim, a liberdade não é um fim em si mesma, mas meio de legitimar e autenticar nosso amor a Deus, pois se amar é escolha, para escolher devemos ser livres.

Só assim a liberdade é um Bem.

Deus não deu a liberdade para que nela tornássemos vítimas de nossas próprias imperfeições e celebrássemos o mal, o que se daria, caso o Criador nos abandonasse à própria sorte, deixando o destino do mundo exclusivamente em nossas mãos.

A LIBERDADE NÃO EXISTE POR SI MESMA, SENÃO, PORQUE DEUS A PERMITE, DO QUE SE CONCLUI QUE O SER HUMANO SÓ É LIVRE PORQUE DEUS QUER, MONSTRANDO QUE A PRÓPRIA LIBERDADE ESTÁ SUBORDINADA A SOBERANIA DIVINA.

Não fosse Deus, soberano, não reinaria, e se não reina não é rei, o que contrariaria toda a revelação da fé.

3 – Deus permite que os efeitos do mal que o ser humano pratica permaneçam no mundo, não porque não possa ou não queira eliminá-los, mas porque não poderíamos adquirir a consciência de reprovar o mal, se o mal que causamos não nos fosse experimentável.

SÓ NA REPULSA AO MAL ENCONTRAMOS A VALORIZAÇÃO DO BEM E DOS ATOS DE BONDADE.

No ser humano imperfeito, o mal é uma realidade justa, pois é perfeitamente justo ao indivíduo experimentar em si o mal que deu causa.

Mas Deus, em sua bondade, o permite tirar do mal a consciência de que o mal é reprovável e o Bem necessário, para que  livremente, o ser humano mova-se do campo da maldade para o âmbito da bondade.

4 – Às vezes é necessário abandonar o Filho poderoso e forte para evitar que os filhos fracos se percam.

Se a humanidade pecou, a humanidade daria satisfação e reparação desse pecado.

Por isso, Cristo haveria de padecer na cruz como homem, não como Deus, para que a salvação dos filhos do Pai fosse realizada e assegurada.

Mas esse abandono foi por pouco tempo, pois após subir aos céus, sentou-se à direita do Pai, todo poderoso, pleno de honra e glória, de onde haverá de julgar vivos e mortos, como ensina nosso Credo desde o Concílio Niceno.

5 – Somos responsáveis por aquilo que damos causa.

Deus não é causa do pecado humano, pois se assim fosse, o ser humano teria tornado Deus pecador.

A violação a ordem natural nasce do mau uso da liberdade, que é um Bem se a tomamos para nos tornarmos livremente aquilo que Deus deseja de nós.

Ele não nos deseja praticando o mal.

O fato de permitir os efeitos do erro humano no mundo, é para tirar de nós o prazer de realizar coisas más, prazer este que está na natureza da própria transgressão que se deleita com o ganho e as vantagens tiradas da corrupção.

Deus quer que enxerguemos por detrás das coisas ruins, o Bem que Ele deseja realizar em nós, e isso é para aqueles que realmente crêem.


1  Teísmo Aberto é uma teoria protestante, criada no século XX, por Clark Pinnock, que defende que Deus, na relação com o homem, renuncia a sua soberania em favor da liberdade humana. Sua onisciência só acontece a partir das escolhas humanas, implicando que o futuro da história humana não está totalmente definido. Se Deus não sabe, ele não pode intervir, e após saber, ele não intervém porque respeita a liberdade humana de modo absoluto. É uma teoria reacionária, que se opõe ao radicalismo de outra teoria reacionária chamada calvinismo, que ensina que na relação com o indivíduo, a soberania de Deus anula o livre arbítrio. Pinnock ensinava: “A ideia da responsabilidade moral exige que acreditemos que as ações não são determinadas, nem interna nem externamente. Uma importante implicação desta forte definição de livre-arbítrio é que a realidade permanece, em certa extensão, aberta, e não fechada. Isto significa que uma novidade genuína pode aparecer na história, que não pode ser prevista por ninguém, nem mesmo por Deus. (…) Tal conceito implica em que o futuro realmente está em aberto, e não disponível à exaustiva presciência nem mesmo da parte de Deus. Fica bem claro que a doutrina bíblica do livre-arbítrio humano exige de nós que reconsideremos a perspectiva convencional da onisciência de Deus.” Pinnock. “Deus Limita Seu Conhecimento”, citado por David Basinger e Randall Basinger, na obra Predestinação e livre-arbítrio, p. 182-183.

2  Mt 27.46

3  “De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia. Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo: “Senhor, salva-nos, nós morreremos!” E Jesus perguntou: Por que este medo, gente de pouca fé? Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria. Admirados, diziam: “Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?”(São Mateus 8. 24-27)

4  Discurso do Santo Papa Bento XVI à Polônia, em 2.006.

5  Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi-lhe: “Meu Senhor, tu o sabes”. E ele me disse: “Esses são os sobreviventes (para vida eterna) da grande tribulação; LAVARAM as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.” (Apocalipse 7. 13-14)

6 “Herodes, vendo-se iludido pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu termo, de dois anos para baixo, conforme o tempo que tinha com precisão indagado dos magos. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: Ouviu-se um clamor em Ramá, Choro e grande lamento; Era Raquel chorando a seus filhos, E não querendo ser consolada, porque eles já não existem. (São Mateus 2. 16-17)”

7 “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados sereis quando vos vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. (São Mateus 5. 3-12)

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