1 – Muitos são adeptos da ideia de que Deus se obriga a recompensar a fé dos seus fiéis com grande riqueza material e prosperidade terrena, pois, como dito, “[…] “Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro.” [1]
2 – Sustentam que assim ocorrera com os antigos reis e patriarcas de Israel, como Salomão: “Dou-te, além disso, o que não me pediste: riquezas e glória, de tal modo que não haverá quem te seja semelhante entre os reis durante toda a tua vida.”[2]
3 – Alegam ainda, que a riqueza de um cristão é sinal de sua enorme e inabalável fé, pois a pobreza material seria resultado da pobreza espiritual.[3]
4 – Dizem que todo pobre é amaldiçoado por Deus,[4] pois na pobreza material Deus castigou Adão e Eva.[5]
MAS EM CONTRÁRIO:
E quando veio ao mundo, pediu ao jovem rico para doar seus bens aos pobres e segui-lo, o que não fora aceito, quando então ensinou que “[…] a ilusão das riquezas e as múltiplas cobiças sufocam e tornam infrutífera a fé,[7]” e “[…] quão difícil é entrar no Reino de Deus o que põem sua confiança nas riquezas.[8]”
SOLUÇÃO:
Deus nos remunera com o amor de Cristo, não com ganhos financeiros, pois o amor verdadeiro é desinteressado, não visa outra coisa, senão o próprio ato de amar. Riqueza e pobreza vem de Deus:
[…] POBREZA E RIQUEZA VEM DE DEUS.’ (Eclesiástico 11, 14)
“A RIQUEZA É BOA PARA QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA PESADA, E PÉSSIMA É A POBREZA PARA O QUE SÓ LASTIMO O SEU MAU.” (Eclesiástico 13, 30)”
Todavia, a finalidade da riqueza é fazer o rico crescer na caridade através da partilha, e levar o pobre a ver a bondade Divina no rico que partilha, mostrando que Deus não se esqueceu dele, vendo Cristo naquele que é maior, e por amor se tornou servo daquele que é menor:
“SEUS FILHOS DEVERÃO INDENIZAR OS POBRES E SUAS MÃOS RESTITUIR SUAS RIQUEZAS.” (Jó 20, 10)”
“CRESCENDO VOSSAS RIQUEZAS, NÃO PRENDAIS NELAS OS VOSSOS CORAÇÕES.” (Salmos 61, 11)
“NA OBSERVÂNCIA DE VOSSAS ORDFENS EU ME ALEGRO MUITO MAIS DO QUE EM TODAS AS SUAS RIQUEZAS.” (Salmos 118, 14)”
Jesus era rico, e fez pobre porque se doou:
VÓS CONHECEIS A BONDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, QUE SENDO RICO, SE FEZ POBRE POR NÓS, A FIM DE VOS ENRIQUECER PO SUA POBREZA.” (II Coríntios 8, 9)
Assim deveria ser o rico em sua caridade, modelo de Jesus, de onde se responde as falácias acima:
1 – Ter fé não é ter uma relação financeira com Deus, e quem assim acredita, ama apenas ao dinheiro, fazendo de Deus um meio supersticioso para atingir o fim que é a riqueza, sendo que os bens com os quais Deus presenteia alguns, são meios para se atingir ao fim que é Ele próprio. Jesus não morreu para nos dar outra coisa, senão a vida eterna, e quem a tem, não necessita de mais nada.[11] A riqueza pode nos levar para Deus ou nos afastar dele.[12] Se a riqueza nos desperta à caridade no amor aquele que tinha fome e foi saciado, estava nu e foi vestido, estava doente e foi medicado, trabalhou bem e foi recompensado com um salário justo, ela nos une a Deus, porque Deus é amor.[13] Porém, se nos desperta a ganância e a prática de injustiça por amor ao dinheiro, ela nos condena. Riqueza em si mesma não é boa, nem má, senão no propósito que damos a ela, se a queremos egoisticamente no conforto e bem-estar apenas para nós ou se estamos dispostos a partilhá-la, ainda que minimamente, com o próximo necessitado.
2 – A riqueza terrena é apenas uma imagem imperfeita da riqueza celestial.[14] Deus nos ensina as coisas maiores através das menores. A riqueza material dos antigos patriarcas e reis de Israel, serviu para ensiná-los que Deus, de fato, é dono de todos as coisas, e que se riquezas terrenas são dotadas de tamanha beleza, esplendor e glória, dirá a riqueza do céu. Mas como ensinou um sábio e riquíssimo rei, é a riqueza no céu que realmente importa.[15]
3 – “Há quem parece rico, não tendo nada, há quem seja pobre, e possui copiosas riquezas. (Provérbios 13, 7)”
A verdadeira riqueza está muito além dos bens materiais que nossos olhos possam ver. Somente após a morte, é que se descobriu que o mendigo Lázaro era riquíssimo, e o rico que dele sempre desdenhou era paupérrimo.[16] Por isso, Pedro, a quem Cristo confiou eternamente as chaves da Igreja, levava até as pessoas, a riqueza que os olhos não viam, que o tempo e as traças não corroíam, e que não era possível avaliar economicamente. Essa riqueza era o próprio Cristo: “Se invocais como Pai aquele que, sem distinção de pessoas, julga cada um segundo as suas obras, vivei com temor durante o tempo da vossa peregrinação. 18.Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo,” (I São Pedro 1. 17. 18)
4 – O mais pobre é o que perde o Bem mais valioso. Adão e Eva perderam a vida eterna, a felicidade no paraíso e a glória de verem Deus pessoalmente, portanto, perderam mais que toda riqueza que o mundo poderia lhes oferecer. Os que buscam Deus pela riqueza financeira são idólatras do dinheiro, como disse o apóstolo,[17] porque substituem Cristo pelo dinheiro, razão porque, toda teoria contrária a caridade da fé tem origem diabólica.
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[1] Gênesis 13, 2.
[2] I Reis 3, 13.
[3] A chamada “teologia da prosperidade” muito em voga no meio evangélico neopentecostal, prega que a maior benção de Deus sobre a vida do fiel é financeira, qual deve ser buscada acima de todas as outras.
[4] “Comerás o pão com o suor do teu rosto. ” (Gênesis 3. 19)
[5] “Isaac semeou naquela terra, e colheu o cêntuplo naquele mesmo ano; o Senhor o abençoava. E este homem cresceu, e seus bens foram aumentando cada vez mais; tornou-se extremamente rico. (Gênesis 26. 12 e 13)”
[7] (São Marcos 4, 19)”
[8] (São Marcos 10, 24)”
[11] “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo, (I São Pedro 1, 18)”
[12] Quem procura enriquecer afasta os olhos de Deus. (Eclesiástico 27, 1)” “É a bênção do Senhor que enriquece; o labor nada acrescenta a ela.” (Provérbios 10. 22)
[13] “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? 38.Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. ” (São Mateus 25. 36-40)
[14] “Meros símbolos das realidades celestiais,” como se disse em Hebreus 9. 23.
[15] “Acumulei também prata e ouro, riquezas de reis e de províncias. Arranjei cantores e cantoras, e o que faz as delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres. Fui maior que todos os que me precederam em Jerusalém. E, ainda assim, minha sabedoria permaneceu comigo. Tudo o que meus olhos desejaram não lhes recusei, nem privei meu coração de nenhuma alegria. Meu coração encontrava sua alegria no meu trabalho, e esse foi o fruto que dele tirei. Mas, quando me pus a considerar todas as obras de minhas mãos e o trabalho ao qual me tinha dado para fazê-las, vi que em tudo havia fugacidade e vento que passa. Nada há de proveitoso debaixo do sol. Àquele que lhe é agradável Deus dá sabedoria, ciência e alegria; ao passo que ao pecador ele dá a tarefa de juntar e acumular bens.” (Eclesiastes 2. 9-25)
[16] “Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico… Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 23.E, estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso, ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. 26.Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que os que querem passar daqui para vós não o podem, nem os de lá passar para cá. O rico disse: Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: Não, pai Abraão; mas, se for a eles algum dos mortos, se arrependerão. Abraão respondeu-lhe: Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos. (São Mateus 16, 20-31)
[17] “Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. (Colossenses 3, 5)”