1 — Parece que não era propósito de Deus que judeus e romanos escolhessem soltar Barrabás que era ladrão e assassino, para crucificar Cristo que era bom e virtuoso, pois apesar de Deus colocar em nosso caminho o Bem e o mal (Deuteronômio 30, 19), é certo que só se alegra quando escolhemos o melhor, e o melhor é Cristo.
2 — No mais, a Justiça Divina é perfeita porque infalivelmente recompensa o bom e castiga o mau, o que não teria ocorrido, vez que o malfeitor fora recompensado e o justo punido.
3 — Além disso, não há proveito em matar o justo em troca da misericórdia para com o transgressor.
MAS EM CONTRÁRIO:
ELE FOI CASTIGADO POR NOSSOS CRIMES, E ESMAGADO POR NOSSAS INIQUIDADES; E O CASTIGO QUE NOS SALVA PESOU SOBRE ELE; FOMOS CURADOS GRAÇAS AS SUAS CHAGAS.” (Isaías 53. 5)
SOLUÇÃO:
Deus, que é amor e criador de todas as coisas, não desistiu de restaurar sua criatura decaída, e em sua infatigável misericórdia, visitou-a em suas enfermidades e limitações, quando por meio do Filho, se fez Homem, para que o ser humano pudesse ser refeito imortal.
Seu sacrifício foi a nossa cura, e por suas sagradas chagas, podemos, agora, nos reencontrarmos com a vida eterna.
Cristo veio TRAZER LUZ num ambiente até então sob a reinação das trevas, porque:
“DAS TREVAS VOS CHAMOU À SUA LUZ MARAVILHOSA, (I São Pedro 2, 9)
E, por nos amar tanto, se humilhou, pois sendo Deus Criador, revestiu-se da imagem servil da criatura, aceitando condenação e morte, pelas mãos daqueles que, até então, eram os verdadeiros condenados e mortos.
Nossas iniquidades foram sepultadas nas suas humilhações.
Todos os seus suplícios serviram à nossa cura.
No seu sacrifício, reuniu de todos os povos, lugares, classes e etnias homens e mulheres; crianças e idosos; ricos e pobres, concedendo-lhes a dádiva fazerem parte de seu Corpo Místico, como membros, para ressuscitarem por meio de sua humanidade, outrora glorificada na ressurreição.
Assim:
“[…] PURIFICAI-VOS DO VELHO FERMENTO, PARA QUE SEJAIS MASSA NOVA, PORQUE SOIS PÃES ÁZIMOS, PORQUATO CRISTO, NOSSA PÁSCOA, FOI SACRIFICADO;” (I CORÍNTIOS 5, 7), no que se responde as questões.
1 — Convém ao pecador oferecer o sacrifício que o livra do pecado.
Assim, convinha aos judeus, representantes do povo do oriente, e aos romanos, representantes do povo do ocidente, conduzirem Cristo, o Cordeiro Primogênito de Deus (Col. 1. 15-17), para o sacrifício de morte, como faziam os pecadores na Antiga Lei Mosaica, que levavam ao altar a vida dos primogênitos dos cordeiros para serem dadas em troca do perdão de seus pecados:
“IMOLARÁS UM NOVILHO EM SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO PELO PECADO; POR ESSE SACRIFÍCIO, TIRARÁS o PECADO DO ALTAR. ” (Êxodo 29. 36)
Percebe-se a sabedoria Divina, que fez com que a humanidade pecadora, sem que soubesse, ofertasse o sacrifício que lhes eximia dos pecados, na vida do próprio Filho de Deus que haveria de ser ceifada.
Neste sentido, a escolha de Barrabás era a única possível e útil ao plano da salvação.
O justo tem mérito para dar sua vida pelos pecadores.
Mas a vida dos pecadores não possui cotação para ser dada em troca do justo.
2 — A justiça infalível de Deus sobre os transgressores só vem quando sua misericórdia é rejeitada.
Nele, que é Amor, a misericórdia precede a justiça.
O Criador de todas as coisas, em seu incomparável e inegociável amor, desejou nos visitar em nossas doenças, em nossa dissipação.
Ele viu o velho homem precipitar-se do paraíso ao abismo da infidelidade, e aí, encontrar a morte.
Mas numa súplica de seu Filho Divino pela bondade do Pai, a criatura decaía fora remodelada, pois o seu próprio Filho tomou para si a nossa PENA DA CONDENAÇÃO para realizar aquilo que ninguém jamais poderia realizar, individual ou coletivamente, que é satisfazer a justiça Divina.
Cristo, o novo Homem, na nova natureza incorrupta, tinha por antagonista Barrabás, o ladrão homicida, o homem que representava a natureza corrompida, vinda de Adão.
Nesta arena que as escolhas foram feitas:
“ORA, HAVIA NAQUELA OCASIÃO UM PRISIONEIRO FAMOSO CHAMADO BARRABÁS.” (São Mateus 27, 16)
E Pilatos dirigiu-se ao povo reunido, dizendo-lhes:
“QUAL QUEREIS QUE EU VOS SOLTE: BARRABÁS OU JESUS, QUE SE CHAMA CRISTO? (São Mateus 27, 17)
RESPONDERAM-LHE: BARRABÁS! E ENTÃO, LIBERTOU BARRABÁS E MANDOU AÇOITAR JESUS, MANDOU AÇOITAR JESUS, E LHO ENTREGOU PARA SER SACRIFICADO.” (São Mateus 27, 26).
No momento da escolha, manifestou-se o apego que toda humanidade por sua velha natureza, corroída pela iniquidade, no amor desordenado do ser humano a ele próprio, amor este, que é inimigo do Amor de Deus.
Por isso, brandaram em favor de Barrabás:
— Libertem-no!
E contra Cristo:
— Crucifiquem-no!
Liberte Barrabás!
Era o grito para a liberdade sem compromisso com a bondade, daqueles que tudo querem fazer, sem prestarem contas à Deus.
O grito pelo senhorio da humanidade sobre si mesma, colocando sua vontade, desejos e exultação, acima da vontade de Deus.
Crucifica Cristo!
Era o grito de revolta contra o Aque Deus tem para nos dar; e contra a misericórdia que ele tem para com toda raça humana.
— “Viva o velho homem, deixem-nos viver. Abaixo o novo homem, matem-no.”
Esta, talvez, fosse a melhor síntese da escolha de Barrabás.
3 – O amor do ser humano por ele próprio é ladrão e homicida, tal como Barrabás, porque rouba de Deus, o amor que poderia lhe dar.
Ao contrário, o Amor de um Homem, um Novo Homem, por toda humanidade, veio nos redimir e trazer de volta à vida.
Nele, a humanidade antiga morria, pagando seu débito, para que a humanidade nova ressurgisse sem dívidas na ressurreição da carne.
Nisso se tem o proveito da morte do justo.
Todavia, em nossa velha humanidade, ainda não unida a Cristo, tendemos a escolher “barrabás”:
“EIS QUE NASCI NA INIQUIDADE, E EM PECADO ME CONCEBEU MINHA MÃE. ” (Salmo 51,3)
Nossa arcaica natureza corrompida, o velho manto, ainda clama, e sempre clamará pelo “direito” de ser livre de Deus.
Mas porque Cristo foi crucificado primeiro, podemos, hoje, crucificar o “barrabás” que há em nós, e libertar o Cristo que em nós habita:
“CONFORME O HOMEM TERRENO, OS HOMENS TERRENOS; CONFORME O HOMEM CELESTIAL, OS HOMENS CELESTIAIS.” (I Coríntios 15, 49)