PODEMOS AFIRMAR NOSSA SALVAÇÃO?

1 – Supõe-se que nada nos impeça de afirmar a certeza da nossa salvação ainda nesta vida, pois: “[…] SE COM TUA BOCA CONFESSAR E EM TEU CORAÇÃO CRER QUE DEUS RESSUSCITOU DENTRE OS MORTOS, SERÁS SALVO1.

2 – No mais, se nossa consciência não nos acusa, nada obsta que nos proclamemos salvos e confirmemos isso por nossos lábios, pois tudo é possível aquele que crê.2

3 – Além disso, se nada nos separa do amor de Cristo,3 conclui-se que uma vez salvo, sempre salvo, pelo que nunca mais, enquanto vivermos, teremos que nos preocupar com a vida eterna no céu.

4 – Por fim, se não podemos ser tirados de Cristo porque lhe fomos dados pelo Pai, então, mesmo antes de nossa morte, poderemos proclamar com absoluta certeza, o juízo de Deus4 sobre nossa salvação.

MAS EM CONTRÁRIO:

“AOS HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER UMA SÓ VEZ, VINDO APÓS, O JUÍZO.(Hebreus 9, 27)

POR ISSO, “ NÃO JULGUES ANTES DO TEMPO, ESPERAI QUE VENHA O SENHOR. ELE PORÁ AS CLARAS O QUE SE ACHA ESCONDIDO NAS TREVAS. ELE MANIFESTARÁ AS INTENÇÕES DOS CORAÇÕES. ENTÃO, CADA UM RECEBERÁ DE DEUS, O LOUVOR QUE MERECE. (I Coríntios 4. 3-5)

SOLUÇÃO:

Ninguém pode antecipar aquilo que Deus ainda não julgou, e antes do juízo final sobre nossas almas, não há quem possa se considerar definitivamente salvo,5 e nem condenado.

Por isso, devemos nos conduzir pela esperança, que nos move a permanecermos fiéis até o fim, para que no tempo oportuno sejamos recompensados, como dito:

[…] “O SENHOR É A MINHA ESPERANÇA, E DESDE A JUVENTUDE, VÓS SOIS MINHA CONFIANÇA.” (Salmo 70, 5)

Todavia, se perdermos a esperança em Deus, ele não permanecerá em nós, nem nós nele:

PERMANEÇA EM MIM, E EU PERMANECEREI EM VÓS.”  (São João 15, 4) 

Pecamos contra a esperança por PRESUNÇÃO OU DESESPERO. 

O desespero fere a esperança pela falta de confiança em Deus; ao passo que a presunção a perverte pelo excesso arrogante de confiança em nós mesmos.

O desesperado não confia que poderá ser perdoado.

Já o presunçoso crê erroneamente que lhe fora dada alguma autoridade ou capacidade para se julgar e se autoproclamar salvo.

Ensinou Santo Tomás, que:

“A PRESUNÇÃO IMPLICA UMA CERTA E IMODERADA ESPERANÇA. POR ISSO, DIZ AS ESCRITURAS QUE DEUS HUMILHA A QUEM PRESUME DE SI MESMO. E TAL PRESUNÇÃO SE OPÕE A VIRTUDE DA CLEMÊNCIA, QUE ESTABELECE COMO JUSTO MEIO A ESPERANÇA.” (Suma Teológica. Q 21, art. 1º DO PECADO DA PRESUNÇÃO, Livro III)

A salvação é o movimento progressivo rumo à Deus, e todo movimento pode continuar, cessar ou retroagir,6 do que é dito para que nos conservemos firmes na fé (Hebreus 4, 14), no que se responde as questões:

1 – Também diz a Escritura que muitas vezes os lábios e o coração são enganosos, do que não podemos ter certeza se somos fiéis, senão, por nossas ações julgadas por Deus no tempo próprio:

“ENGANOSO É O CORAÇÃO, MAIS QUE TODAS AS COISAS, E DESESPERADAMENTE CORRUPTO; QUEM O CONHECERÁ?” (Jeremias 16. 9)7

Só aquele que é onisciente, pode julgar retamente a tudo e a todos, e “ENTÃO SERÁS SALVO”, como disse o Apóstolo, levando o verbo ao tempo futuro.

Por isso, somos exortados à esperar com confiança o tempo da salvação:

“[…] NÃO JULGUEIS ANTES DO TEMPO. ESPEREMOS QUE VENHA O SENHOR. ELE PORÁ ÀS CLARAS O QUE SE ACHA ESCONDIDO NAS TREVAS. ELE MANIFESTARÁ AS INTENÇÕES DOS CORAÇÕES. ENTÃO, CADA UM RECEBERÁ DE DEUS, O LOUVOR QUE MERECE.” (I Coríntios 4. 3-5)

Vê-se claramente que o texto em Romanos 19, 9, não fala em autoproclamação da salvação, mas de proclamar a fé para servir futuramente à salvação.

2 – A consciência do Apóstolo de nada lhe acusava, e mesmo assim, ele não concedeu a si o direito de se autoproclamar salvo:

“NEM EU JULGO A MIM MESMO. DE NADA MINHA CONSCIÊNCIA ME ACUSA. CONTUDO, NEM POR ISSO SOU JUSTIFICADO. MEU JUIZ É O SENHOR.” (1 Coríntios 4. 3, 4 e 5)

Ninguém pode fazer um juízo de si, relativo a salvação.

Tal seria falho por nossa condição de imperfeitos. 

Ainda que pudéssemos obter a salvação antes do fim da jornada terrena, não teríamos como saber, pelo que devemos esperar, confiar e cuidar que permaneçamos em Cristo, para que ele permaneça conosco:

TERÁS CONFIANÇA E FICARÁS CHEIO DE ESPERANÇA, E OLHANDO EM VOLTA DE TI, DORMIRÁS TRANQUILO.” (Jó 11, 18)

“CONSIDERA A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS. Severidade para com aqueles QUE CAÍRAM, bondade para contigo, SUPOSTO QUE PERMANEÇA FIEL A ESSA BONDADE; POIS DO CONTRÁRIO SERÁS CORTADO.” (Romanos 11. 22)

3 – Salvo é o que tem acesso direto ao céu, pode ver Deus face a face, e nada mais lhe falta porque atingiu a perfeição e não precisa mais das orações, da confissão, redenção, da Igreja, ler as Escrituras, e nem de preservar-se na bondade ou no temor à Justiça Divina, porque já não há risco de perecer na condenação.

Quem poderá afirmar tal condição? 

Por esta razão:

COM ESPERANÇA DE A RESSURREIÇÃO DENTRE OS MORTOS. NÃO PRETENDE DIZER QUE JÁ ALCANCEI ESTA META, E QUE CHEGUEI À PERFEIÇÃO. NÃO. MAS EU ME EMPENHO EM CONQUISTÁ-LA, UMA VEZ QUE TAMBÉM EU FUI CONQUISTADO POR JESUS CRISTO. CONSCIENTE DE NÃO TÊ-LA AINDA CONQUISTADO, SÓ PROCURO ISTO: PRESCINDINDO DO PASSADO E ATIRANDO-ME AO QUE RESTA PARA FRENTE, PERSIGO O ALVO RUMO AO PRÊMIO CELESTE, AO QUAL DEUS NOS CHAMOU EM JESUS CRISTO.” (Filipenses 3. 11-14)

4 – De fato, disse Cristo sobre aqueles que o Pai lhes deu:

“NINGUÉM OS TIRARÁ DAS MINHAS MÃOS.”

Entretanto, se a relação entre ovelha e pastor é o querer recíproco de estarem reunidos, também é certo que toda ovelha é livre para abandonar o seu guia, pois este não escraviza, antes, liberta, e aquela que o rejeitar, vagará pelos campos a seu próprio rumo.

O pai não impediu o filho pródigo de abandoná-lo, mas garanti-lhe o retorno com grande alegria, satisfação e festa.


1 Rm 10. 9

2 Mc 9, 23

3 Rm 8. 38-39

4 Jo 10. 27-29

5 A não ser, por uma revelação muitíssimo especial, a uma pessoa muitíssimo especial, como dada ao profeta Jeremias e a Virgem Maria, que proclamou sua salvação na oração do Magnificat: “O Senhor fez maravilhas em mim”. Porém, o caso é único e irrepetível.

6 Rm 2. 5 e 6

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial