A VERDADE E O VERDADEIRO SÃO COISAS DISTINTAS?

Agostinho: Se a verdade e o verdadeiro são coisas distintas, então só podemos compreender uma através do outro.
Ovídio: Não lhe contesto.
Agostinho: Sendo a verdade, a beleza; e verdadeiro o indivíduo belo, achas que perece a verdade quando perece o verdadeiro, ou seja, que a beleza morre quando morre o ser que é belo?
Ovídio:—  De modo algum, pois a beleza sempre existirá.
Agostinho: A verdade, no caso, a beleza, só está naquilo que é verdadeiro, no caso, o belo, por participação e temporariamente, pois o verdadeiro não lhe aprisiona.
O belo é incapaz de apreender e tomar para si eternamente a beleza.
Ovídio: Em relação a flora, as árvores e as plantas?
Agostinho: O que tem?
Ovídio: Julgas que perece a flora, enquanto verdade, quando perecerem todas as árvores e plantas que são indivíduos verdadeiros?
Agostinho: Obviamente não. Se a flora é a verdade, a verdade existe em si e por si mesma, porque é impossível que não nasça algum dia, em algum local, alguma planta qualquer na terra. Mesmo que se arranque do mundo todas as árvores, ainda haverá no solo ou subsolo em alguma parte do mundo, resquício de musgo ou semente que mais cedo ou mais tarde germinará noutra árvore ou planta, a não ser que se conceba, erroneamente, que a verdade só possa existir como algo local e corporalmente, que deva estar sempre visível em algum lugar a todo momento, e que não possa existir, senão, desse modo.
(TEXTO BASEADO NA OBRA DIALÉTICA À FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO. Conhecendo a Alma e Confiando em Deus. ref. Cap XV – De Anima)
Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial