Toda criação foi gerada para estar em constante movimento.1 E tudo que move, move-se a um fim predeterminado, como a água da nascente que atinge córregos, cascatas e rios até chegar ao mar.
Mas a água do mar não se move rumo à nascente, pois na perfeição da Lei Natural, o menor move-se para o Maior, o incompleto para o Completo, e o imperfeito para o Perfeito. Na perfeição da Lei Divina, esse princípio pode ser identificado no mover do ser humano em direção à Deus.
O Apóstolo esclareceu este movimento, chamado conversão: “Então que diremos? PERMANECEREMOS NO PECADO, porque há abundância da Graça? De modo algum. Nós, que JÁ MORREMOS AO PECADO, como poderíamos ainda viver nele? (Romanos 6.1 e 2)” “[…] assim, ponde agora os vossos membros a serviço da Justiça, para CHEGAR À SANTIDADE. (Romanos 6. 19)”
Ensina Santo Tomás: “[…] move–se o menor para o Maior. Quem passa do pecado para Graça, MUDA, pois, o erro é incompatível com a Graça, e quem sobe da Graça menor para a Maior alcança a perfeição. Pelo crescimento físico, o homem progride o corpo, e pelo crescimento espiritual se progride ao estado de perfeição em relação ao juízo de Deus.” […]
Sobre a diferença entre santidade e impecabilidade, disserta: “[…] alguém está perfeito, não por praticar atos perfeitos, mas por se obrigar perpetuamente a perfeição, mediante as Causas Dela.” (Suma Teológica, Q 184, art 4º Da Perfeição em Geral)
Ditam as Escrituras: “[…] é Nele que temos a vida, o MOVIMENTO, o ser.” (Atos 17, 28)
A busca pela comunicação plena com a Divindade Maior está na essência2 da humanidade criada, e só amando a Deus e ao próximo, nos livramos do amor menor, inferior, imperfeito, desonesto e desordenado em nós mesmos, o qual nos condenará diante de Deus: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles VERÃO A DEUS. (São Mateus 5, 8)” “Segui a paz com todos, E A SANTIDADE, sem a qual ninguém verá o Deus. (Hebreus 12, 14)”
Ensina ainda Santo Tomás: “Beatitude3 é o fim último para o qual tende a vontade humana. Esta não deve tender para nenhum outro fim, a não ser Deus. (Suma, Q 3 art. 1º Da Beatitude)”
Buscar a santidade é o sentido da vida ainda existir em nós, mesmo depois do pecado original: “TENDEI À PERFEIÇÃO, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o DEUS de amor e paz ESTARÁ CONVOSCO, (II Coríntios 12, 11)”
Deus é a única causa do bem e da santidade, e assim, é o único que pode compartilhá-los: “Deus é por essência a beatitude não pela obtenção ou participação em qualquer outra coisa. Já os homens, por participação, são separados, para serem chamados Filhos de Deus. (Aquino, Q art. 3º Suma Teológica acima citada)”
Cristo em sua morte, deu a todos nós o Dom da Santidade.
O indivíduo, renascendo no Batismo, como reflexo de Deus em imagem e semelhança, possui potencialmente a santificação, devendo chegar a ela, em concreto, pelo crescimento espiritual mediante a fé. São as nossas ações que imprimem no instante finito e efêmero, o caráter da eternidade. E como participaremos dessa eternidade? Pelos méritos de Cristo adquiridos na cruz, os quais nos conduzirão ao céu ou pelos nossos vícios, que nos arrastarão para perdição eterna.
1 Por uma só oblação ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação. (Hebreus 10, 14) “E até oramos por vossa perfeição. (II Cor 13, 9)” “lança uma fonte água doce e amargosa? (S. Tg 3, 11)
2 Essência é tudo aquilo que é da Natureza de um ser. Deus não é amoroso, DEUS É O AMOR Personificado, posto que o Amor é sua ESSÊNCIA. Já a Participação é uma característica que aderiu em um ser, resultado do compartilhamento de uma outra essência, que acaba por transformar o partícipe em outro ser.
3 Boécio (Anícius Torquato Boécio, +525 DC) filósofo neoplatônico romano, fervoroso cristão, ensina que a Beatitude é o Estado da Perfeição, quando já se reúne no ser todos os bens necessários a sua salvação. (Suma III De Consul)”