1 – Parece que a apostasia não difere da incredulidade, vez que nem o incrédulo, nem o apostata são fiéis, razão, pois, que ambos pecados pertencem a infidelidade.
2 – No mais, supõe-se da apostasia mais grave que a incredulidade, vez que o apóstata, apesar de ter conhecido e praticado a fé por certo tempo, a renegou voluntariamente.
2 – Todavia, talvez não seja dado ao ser humano apostatar, por ser impossível renegar a Deus quando o conhecemos e participamos de suas virtudes e bondades.[1]
MAS EM CONTRÁRIO:
O ESPÍRITO DIZ EXPRESSAMENTE QUE, NOS TEMPOS VINDOUROS, ALGUNS HÃO DE APOSTATAR DA FÉ, DANDO OUVIDOS A ESPÍRITOS EMBUSTEIROS E A DOUTRINAS DIABÓLICAS.” (I Timóteo 4.1)
SOLUÇÃO:
Apostasia é negação pertinaz, consciente e com afinco a fé recebida, aliada ao repúdio total e voluntário das práticas e preceitos que, outrora, conduziam a comunhão com a vontade Divina[2].
“A FÉ NOS UNE A DEUS, E NOS FAZ TER COMUNHÃO NO SEU PENSAMENTO E NA SUA VIDA.” (TANQUEREY. Compêndio de Teologia Mística e Ascética, p. 662. Cap. III. Das Virtudes Teologais)”
É na vontade livre que Deus nos atrai à sua presença, movendo-nos com nossa aquiescência até ele.
Todavia, é próprio de todo movimento progredir, cessar ou até mesmo retroagir.
Assim, entre o ato primeiro do querer e do deixar-se mover até Ele e por Ele, até fim da jornada pretendida, há de haver uma linha contínua a nos conduzir ao ponto de chegada.
“PERMANECEI EM MIM, QUE EU PERMANECEREI EM VÓS.” (São João 16)
A apostasia se distingue da incredulidade, pois esta é inerente que se recusaram voluntariamente em receber a fé, não se abrindo a vida transcendente, nem se deixando guiar por Deus para conhecer as verdades Divinamente reveladas.
Incredulidade é a negligência de não buscar ou se recusar em receber os preceitos de submissão ao amor Divino:[3]
“PORQUE NOS TORNAMOS PARTICIPANTES DE CRISTO, SE RETIVERMOS FIRMEMENTE O PRINCÍPIO DA NOSSA FÉ ATÉ O FIM. (Hebreus 3.14)”
Apostatar é repudiar.
É a rejeição espontânea de Deus, após conhece-lo e participar do seu amor e das suas dádivas, quando o indivíduo não se dispõe mais em recebe-lo em sua vida, no que se responde aos questionamentos acima:
1 – O incrédulo jamais esteve em comunhão com Cristo, não tendo minimamente, por sua exclusiva vontade, acesso aos preceitos da fé.
Já o apóstata é o que, embora outrora tenha encontrado conversão, usufruindo da comunhão com a vontade Divina, à certa altura da vida livremente abdicou dela, vindo a perdê-la, causando ruptura com Deus, deixando de ser contado dentre os justos que herdarão o céu.
Apostasia, no grego originário – ἀποστασίαν, significa mudar de lado, como uma rebelião, saindo de uma situação e indo para outra diametralmente oposta.
“ELES SAÍRAM DO NOSSO MEIO, MAS NÃO ERAM NOSSOS; POIS SE FOSSEM DOS NOSSOS, TERIAM PERMANECIDO CONOSCO. O FATO DE TEREM NOS ABANDONADO REVELA QUE NENHUM DELES ERA REALMENTE DOS NOSSOS.” (I São João 2.19)
Assim, embora possam ser distintos em suas naturezas, tanto a apostasia, quanto incredulidade são pecados contra a fé e contra a verdade revelada[4].
2 – Tal rompimento do ser humano com Deus ocorre por diversas razões, mas principalmente, pela soberba na qual o indivíduo se alimenta da ideia de ser autossuficiente e não precisar de Deus.
Por isso, toda ruptura voluntária com Deus, após conhece-lo e comungar no seu amor, abre sequelas graves no corpo e na alma do apóstata:
“PORQUANTO SE, DEPOIS DE TEREM ESCAPADO DAS CORRUPÇÕES DO MUNDO, PELO CONHECIMENTO DO SENHOR E SALVADOR JESUS CRISTO, FOREM OUTRA VEZ ENVOLVIDOS NELAS E VENCIDOS, TORNOU-SE-LHES O ÚLTIMO ESTADO PIOR DO QUE O PRIMEIRO.” (II São Pedro 2.20-22)
Se tem por mais grave todo pecado que mais fortemente nos afasta de Deus, criando obstáculos maiores para que novamente voltemos a participar do sacrifício de Cristo que nos salva:
“SE DEPOIS DE TERMOS RECEBIDO E CONHECIDO A VERDADE, NÓS A ABANDONARMOS VOLUNTARIAMENTE, JÁ NÃO NOS RESTA UM SACRIFÍCIO PARA EXPIAR ESSE PECADO;” (Hebreus, 10. 26 e 27)
Neste contexto, de fato, a apostasia é mais grave que a incredulidade, porque é o ser humano desistindo de Deus.
3 – Deus respeita o nosso querer, tanto quanto nosso não querer.
Apesar do seu incomensurável amor, ele não nos aprisiona, coagindo nossa vontade e violentando nossa consciência, pois o seu bem querer por nós não é patológico como de um marido abusivo que deseja ser amado a qualquer preço, e para tanto usa força bruta e suprime de sua esposa a liberdade de amá-lo ou não.
“SE DEPOIS DE TERMOS RECEBIDO E CONHECIDO A VERDADE, A ABANDONARMOS VOLUNTARIAMENTE, JÁ NÃO NOS RESTA UM SACRIFÍCIO PARA EXPIAR ESTE PECADO;” (Hebreus, 10. 26 e 27)
Vai contra as Escrituras a defesa de uma graça de Deus seja irresistível:
‘POR ISSO, É NECESSÁRIO PRESTARMOS A MAIOR ATENÇÃO À MENSAGEM QUE TEMOS RECEBIDO, PARA NÃO ACONTECER QUE NOS DESVIEMOS DO CAMINHO RETO. (Hebreus 2, 1) ”
“[…] CASTIGO O MEU CORPO E O MANTENHO EM SERVIDÃO, DE MEDO DE EU MESMO VIR A SER EXCLUÍDO, DEPOIS DE EU TER PREGTADO AOS OUTROS. (I Coríntios 9, 27)
CONSERVANDO A FÉ E A BOA CONSCIÊNCIA, A QUAL ALGUNS, REJEITANDO-AS, FIZERAM NAUFRÁGIO NA FÉ. (I Timóteo 1.19)”
“SEPARADOS ESTAIS DE CRISTO, VÓS OS QUE VOS JUSTIFICAIS PELA LEI: DA GRAÇA TENDES CAÍDO. (Gálatas 5.4)”
Logo, esse movimento rumo à nosso destino com Deus não pode cessar, sob pena de desviarmos do Caminho[5] que nos leva até ele; ou de ficarmos retidos nele, estagnados, sem que alcancemos o fim da jornada que é a vida eterna ao seu lado:
“MEU PÉ SEGUIR OS SEUS TRAÇOS, GUARDEI O SEU CAMINHO SEM ME DESVIAR. (Jó 23, 11)”
“SE ALGUÉM NÃO PERMANECER EM MIM, SERÁ COMO O RAMO QUE É JOGADO FORA E SECA. ENTÃO, ESSES RAMOS SERÃO JUNTADOS, LANÇADOS AO FOGO E QUEIMADOS.” (São João 15.6)
“O MACHADO já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será CORTADA e JOGADA ao FOGO. ” (São Lucas 3.10) ” “[…] por isso, recomendou ao vinicultor: ‘Este é o terceiro ano que venho buscar os FRUTOS desta figueira e NÃO ACHO. Sendo assim, PODES CORTÁ-LA! Para que está ela ainda ocupando inutilmente a boa terra? (São Lucas 13.7) ” “Os nossos, de igual forma, aprendam a DEDICAR-SE ÀS BOAS OBRAS, a fim de que possam suprir todas as necessidades cotidianas e não sejam IMPRODUTIVOS. (Tito 3.14)”
[1] Sínodo de Dort, ano 1619 Canon 8 – refutação. Confissão da Fé reformada calvinista.
[2] Catecismo §675
[3] Catecismo §2089
[4] “Porque a apostasia dos tolos os mata e o desleixo dos insensatos os perde. (Provérbios 1, 32)
[5] Porque Jesus Cristo é o Caminho, a verdade e a vida, o desvio desse caminho nos leva ao engano e a morte eterna. (Jo 14,6) “Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, MUITO MENOS NÓS, SE NOS DESVIARMOS DAQUELE QUE É DOS CÉUS.” (Hebreus 12.25)