1 – Se Deus é amor, o amor seria incapaz de condenar alguém a infelicidade sem fim e aplicar penas de dores aquele a quem condena, razão porque a misericórdia de Deus está garantida a todos, sejam bons ou maus, para os que buscam virtudes ou que se deleitam nos vícios,1 “(…) porque diante de Deus, não há acepção de pessoas. (Romanos 2. 11)
2 – No mais, se por seu infinito amor Deus ama a todos sem acepção, conclui-se que ao final salvará a todos sem distinção, vez que se Deus2 é amor, o amor não deixará que ninguém se perca3.
3 – Se Deus tem alegria no perdão, a condenação se torna incompatível com a felicidade Divina do Ser do qual toda sua misericórdia provém, logo, o ato de castigar conflita com um Deus que é puro amor.
4 – Soma-se, que se Deus é amor, as punições que recaem sobre nós, não são frutos de sua permissão ou vontade, mas resultado dos nossos erros, não sendo Deus, mas o ser humano, o autor do seu próprio castigo4, o qual se limita a vida corporal temporal e terrena, não transcendendo a vida espiritual infinita.
MAS EM CONTRÁRIO:
“(…) QUE DIREMOS POIS? HAVERÁ INJUSTIÇA EM DEUS? DE MODO ALGUM! (Romanos 9, 14)”
Por isso, Ele diz de si mesmo:
“(…) OS CASTIGUEI PELOS PROFETAS, E OS MATEI PELAS PALAVRAS DA MINHA BOCA, E MEU JUÍZO RESPLANDECE COM O RELÂMPAGO.” (Oseias 6, 5)
“TRIBULAÇÃO E ANGÚSTIA SOBREVIRÃO A TRODO AQUELE QUE PRATICA O MAL; MAS GLÓRIA, HONRA E PAZ A TODO O QUE FAZ O BEM. (Romanos 2. 5-10)”
SOLUÇÃO:
Todos os atributos de Deus são eternos, e em Deus nada é finito.
Logo, o amor em Deus expressado nos atos de amar é infinito.
Mas o seu amor não despreza sua justiça, PORQUE AMOR SEM JUSTIÇA É PAIXÃO, QUE É O AMOR DETURPADO E DESGOVERNADO PELA IRRACIONALIDADE, e, portanto, uma imperfeição incompatível com natureza Divina.
Deus ama os pecadores, e por isso, quer regenerá-los.
Deus ama até mesmo os que não desejam amá-lo, e mesmo aplicando sua justiça aos maus, seu amor por eles não se extingue, vez a punição, a princípio, objetiva tirar o pecador da morte para conduzi-lo à vida.
Não punir a maldade ou não recompensar a bondade é um mal em si mesmo, chamado INJUSTIÇA, o qual causará dano ao que praticou o bem, e produzirá lucro ilícito ao que obrou mal.
Por isso:
“NÃO COMETEREIS INJUSTIÇA NOS JUÍZOS, VEM NA VARA, NEM NO PESO, NEM NA MEDIDA.” (Levítico 19, 35)
O bem não recompensado é desestimulado; enquanto e o mal não punido incentivado, razão porque se Deus abandonasse sua justiça, tornar-se-ia por omissão, responsável pelo mal que não coibiu, reprimiu ou combateu.
Julgar retamente é reconhecer aquilo que convém por direito a cada um5.
Aplicar a legítima justiça implica distribuir um Bem de modo equilibrado, e do equilíbrio se diz perfeição, como ensinou o sábio:
‘TUDO QUE ULTRAPASSA A MEDIDA, EM MATÉRIA DE JUSTIÇA, É CHAMADO POR EXTENSÃO DE LUCRO, COMO TUDO QUE NÃO ATINGE ESSA MEDIDA É CHAMADO DANO6.”
Premiar o Bem e punir o mal faz parte do perfeito equilíbrio, no que se responde as questões.
1 – É próprio do justo a amizade com a justiça, assim como do injusto a inimizade.
E Deus é o Justo dos justos, que pune os maus por amor aos bons, porque igualar o fiel com o infiel seria menosprezar a obediência.
Nivelar o beatificado com o pervertido seria desprezar à santidade.
Equiparar o devasso com o recatado implicaria zombar da castidade e da sexualidade lícita.
Igualar o egoísta com o caridoso seria ridicularizar a partilha amorosa, assim como honrar o covarde como se honra um mártir seria escarnecer e desmoralizar um valoroso sacrifício.
Desprezo e menosprezo são produtos da injustiça, sendo manifestações de desamor ao Bem, o que é incompatível com o esmero e a justeza Divina:
“QUE DEUS ME PESE NA BALANÇA DA JUSTIÇA E RECONHECERÁ A MINHA INTEGRIDADE. (Jó 31, 6)”
Afirmar que Deus não punirá a maldade por amor aos maus, significaria dizer que ele é um juiz tolerante e condescendente com a perversidade, e todo juiz que tolera a perversidade por fraqueza sentimental é um inapto e corrompido, o que desalinha do caráter Divino:
VÓS SOIS JUSTO, SENHOR! VOSSOS JUÍZOS SÃO CHEIOS DE EQUIDADE E VOSSA CONDUTA É TODA MISERICÓRDIA, VERDADE E JUSTIÇA.“ (Tobias 3, 2)
“O SENHOR É O JUIZ DOS POVOS. FAZEI-ME JUSTIÇA, SENHOR, SEGUNDO O MEU JUSTO DIREITO, CONFORME MINHA INTGEGRIDADE.” (Salmos 7, 9)
“PONDE FIM Á MALÍCIA DOS ÍMPIOS E SUSTENTAI O DIREITO, Ò DEUS DE JUSTILA, QUE SONDAIS OS CORAÇÕES.“ (Salmos 7, 10)
Deus é amor, mas o amor não ama a maldade, a perversidade, a desumanidade, a intriga, a barbárie e a crueldade, porque o amor em Deus é a virtude da amizade e zelo por tudo que é perfeito, bom, santo e útil ao bem comum de sua criação.
2 – O amor ao pecado é o desamor a santidade, pois pecado e santidade se opõem. Por isso, o amor Divino enquanto virtude perfeita, não implica no desamor a reta justiça.
Ninguém se distingue na essência, mas é certo que somos diferenciados por nossos atos, condutas e obras:
“EIS QUE VENHO EM BREVE, E A MINHA RECOMPENSA ESTÁ COMIGO, PARA DAR A CADA UM CONFORME AS SUAS OBRAS.” (Apocalipse 22, 12)
A aplicação da justiça difere o santo do profano; o fiel do infiel, o ladrão do lesado, o assassino da vítima, o egoísta do altruísta e o ganancioso do caridoso.
Como ensinou o sábio sacerdote:
“(…) JAMAIS HAVERÁ VERDADEIRA JUSTIÇA, E POR CONSEQUÊNCIA, PAZ E HARMONIA, SE TUDO, E TODOS FOREM RIGOROSAMENTE IGUAIS, POIS A RENÚNCIA EM SE RECONHECER O QUE É DISTINTO LEVA A CONFUSÃO.7.”
E onde o princípio da igualmente é elevado ao extremo absoluto, quando tudo então se torna a mesma coisa, não haverá como discernir o certo do errado, o justo do injusto e o bem do mal.
De fato, o amor de Deus não quer que ninguém dele se perca.
Todavia, devemos estar unidos a esse amor para não nos perdermos, e para tanto, devemos permitir que Deus retire de nós tudo que nos afasta do seu nobilíssimo amor.
3 – A alegria de Deus é o imperfeito alcançar a perfeição, o arrependido buscar o perdão, o ódio ser vertido em amor, e o amor ao Criador superar o amor as criaturas.
Ora, a imperfeição, a impenitência, o ódio e o apego a criação mais que ao Criador, são injustiças que o ser humano comete contra Deus, e, por isso, Deus não se alegra na injustiça.
É justo que a maldade e a bondade tenham suas próprias consequências, proporcionais a cada uma delas.
Portanto, é justo que os atos bons e maus tenham seus próprios efeitos, assim como quem planta um bom fruto e quem planta fruto envenenado colham, respectivamente, vida e morte:
“DEBAIXO DO SOL, OBSERVEI QUE A INJUSTIÇA OCUPA O LUGAR DO DIREITO E A EQUIDADE TOMA LUGAR DA JUSTIÇA.” (Eclesiastes 3, 16)
“(…) AQUELES, PORÉM, QUE PRATICAM A INJUSTIÇA E O PECADO SÃO OS SEUS PRÓPRIOS INIMIGOS.” (Tobias 12,10)
A Justiça Divina é um Bem, e por isso, Deus julga os atos dos bons e dos maus sem qualquer remorso:
“DEUS É FIEL, E NÃO COMETE ERROS. JUSTOS E RETO ELE É.‘ (Deuteronômio 32. 4)
4 – De fato, temos aquilo que é o resultado do que plantamos.
Mas isso é apenas uma meia verdade, sendo certo que todas os grandes erros são constituídos a partir de meias verdades.
O mal não pode ser juiz de si mesmo, porque para ser juiz implica ter bom e reto juízo.
A punição aos maus vem de Deus, e está na permissão que eles experimentem o resultado maléfico do mal que produziram por seus atos voluntários, porque Deus, sendo o Sumo Bem, os castiga através das maldades que eles mesmos causaram.
Só Deus é Juiz de todas as coisas, e afirmar que Deus não punirá a maldade, posto que a punição aos maus ficaria à mercê do “acaso” implica dizer que Deus não possui jurisdição.
Ora, ele permite que o pecador experimente do próprio mal para lhe dar a consciência do valor da bondade, para que isso possa conduzi-lo ao encontro do Sumo Bem.
Por fim, é certo que devemos sempre confiar na misericórdia de Deus, porque Ele tem mais prazer no perdão ao verdadeiramente arrependido, e na misericórdia ao desafortunado que na condenação, pois “[…] DEUS É RICO EM MISERICÓRDIA. (Efésios 2. 4)
Mas isso, sem desconhecer que a justiça se harmoniza plenamente com sua misericórdia: “Considera pois, a bondade e a SEVERIDADE de Deus.“ (Romanos 11. 12)
“[…] MAS UMA COISA FAÇO, E É QUE ESQUECENDO-ME DAS COISAS QUE ATRÁS FICARAM, E AVANÇANDO PARA AS QUE ESTÃO DIANTE DE MIM, PROSSIGO PARA O ALVO, PELO PRÊMIO DA SOBERANA VOCAÇÃO DE DEUS EM CRISTO”. (Filipenses 3. 13 e 14)
1 O universalismo defendido por RUDOLF BULLTMAN (1.884-1.976), ensina que “a salvação abrangerá todas as pessoas, sem exceção, vez que o amor de Deus não deixará que ninguém se perca.” (PECOTA in HORTON, p. 358). Também KARL BARTH (1.886-1.968) defendeu esse ponto de vista, embora não de maneira explícita. Também Thomas Whittemore, escreveu sua obra “100 Provas Bíblicas de que Jesus Cristo Vai Salvar Toda a Humanidade”.
2 Porque Deus é amor. (São João 1. 4. 8)
3 E esta é a vontade do Pai, o qual me enviou: que Eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu. (São Mateus 18. 14)
4 Como no Livro Sagrado do Budismo (Triptaka), onde o céu e o inferno estão dentro de cada ser humano, sendo uma construção mental, e em crenças gnósticas como Espiritismo e as rejudaizantes como no Adventismo, em que se apregoa que os castigos a serem suportados pelos maus, estão apenas no âmbito da vida terrena ou temporária.
5 Conforme o jurista romano ULPIANO (ano 228): Fazer justiça é dar a cada um aquilo que lhe é por direito, conforme também o princípio geral contido na antiquíssima Lei das XII Tábuas. (cuun suique tribuere)
6 Suma Teológica Q 58. Art. 10, Livro IIIa. Santo Tomás de Aquino”
7 Cardeal Georges Cottier.”