ADORAÇÃO POSSUI PRECEITO E FORMA?

1 – Parece que a adoração não tem preceito, nem forma, sendo qualquer ato de afeto destinado à Deus, tendo forma livre pela qual alguns cantam, dançam, meditam e choram, enquanto outros o contemplam no silêncio.

2 – Parece que adorar é dar a Deus o que temos de melhor.

3 – Todavia, adorar talvez não seja necessário à salvação, pois na cruz, Cristo reparou de vez todos os nossos delitos,[1] pelo que adoramos apenas por gratidão.

4 – Por fim, se todo afeto consiste adoração, então adorar e venerar implicam coisas idênticas, pois com afeto veneramos aqueles a quem amamos.

MAS EM CONTRÁRIO:

“JESUS RESPONDEU: ESTÁ ESCRITO: AO SENHOR, TEU DEUS, ADORARÁS E SÓ A ELE DARÁS CULTO.[2]

Adoração[3] é honraria de natureza tributária E CRISTOCÊNTRICA que se dedica exclusivamente a Deus, devotando-lhe gratidão e reconhecendo nossa dependência ao seu amor, através qual ele nos permite a existência, assim como a existência de todas as coisas.

Implica depositarmos no altar os nossos pecados confessados, para que recebamos a vida eterna, como resultado do perdão Divino.

É o culto de súplica pelo qual rogamos a Divindade apelos pela vida feliz na eternidade.

Possui elementos de validade, sendo composta de ato exterior e interior.

O ato interior é, por amor, reconhecermos a majestade da Divindade suprema e única do Deus adorado [4], estabelecendo com ele relação de senhorio superior as outras relações de senhorio existentes em nossas vidas:[5]

“MESTRE, QUAL O MAIOR MANDAMENTO DA LEI?  ASSEVEROU-LHE JESUS: “AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, DE TODO CORAÇÃO, DE TODA A TUA ALMA E COM TODA A TUA INTELIGÊNCIA. ESTE É O PRIMEIRO E MAIOR DOS MANDAMENTOS.’ (SÃO MATEUS 22, 37)

Para tanto, é preciso que em nosso âmago, admitamos a baixeza da condição humana em relação altivez Divina, importando, em razão desse amor, no compromisso inegociável de submissão à sua vontade:

‘ANTES DE TUDO, CRÊ QUE EXISTE UM SÓ DEUS QUE CRIOU E ORGANIZOU O UNIVERSO, FAZENDO PASSAR TODAS AS COISAS DO NÃO-SER PARA O SER, QUE CONTÉM TUDO, E ELE PRÓPRIO NÃO É CONTIDO POR NADA. CRÊ NELE E SEJA CONTINENTE. OBSERVA ISSO E AFASTA DE TI TODO MAL, PARFA QUE SEJAS REVESTIDO DE TODA VIRTGUDE DE JUSTIÇA E VIVERÁS PARA DEUS, SE OBSERVARES ESSE MANDAMENTO.[6]

Ao se fazer carne[7], Deus inseriu toda humanidade numa dimensão divina necessária a sua própria redenção.

Assim, é mister que interiormente reconheçamos a Cristo, em sua natureza humana, como único redentor da humanidade:[8]

O REDENTOR DO HOMEM, JESUS CRISTO, É O CENTRO DO COSMOS E DA HISTÓRIA. PARA ELE SE DIRIGEM MEU PENSAMENTO E MEU CORAÇÃO NESTA HORA SOLENE.[9]

O ato exterior consiste num ofertório, no qual se tributa a Deus um certo sacrifício.

‘PORQUE DO NASCENTE AO POENTE, MEU NOME É GRANDE ENTRE AS NAÇÕES E EM TODO LUGAR SE OFERCEM AO MEU NOME O INCENSO, SACRIFÍCIOS E OFERENDAS PURAS – DIZ O SENHOR DOS EXÉRCITOS. ” (Malaquias 1, 11)

Mas ele que não deseja qualquer sacrifício.

Ele não quer de nós sacrifícios de morte e sangue, nem ofertas em ouro, prata, dinheiro[10] ou pedras preciosas.

O sacrifício desejado é a renúncia ao mal, um coração cheio de benignidade e o arrependido de toda maldade até então praticada.[11]

Adorar é o culto de oferta por completo do ser humano a Deus, em sacrifício de corpo vivo:

EU VOS EXORTO, POIS, IRMÃOS, PELA MISERICÓRDIA DE DEUS, A OFERTARDES VOSSOS CORPOS EM SACRIFÍCIO VIVO, SANTO E AGRADÁVEL A DEUS: ESSE É O VOSSO CULTO RACIONAL.” (Romanos 12.1)

Oferecer nossos corpos vivos a Deus, implica amá-lo sobre todas as coisas, e por consequência, amar nosso próximo como a nós mesmos por ser ele também a imagem do Deus amado.

Mas não há quem ame e não deseje se unir ao ser amado.

Não há quem ame a Deus que não deseje com ele a comunhão.

Essa união é o que permite que sejamos ofertas vivas de sacrifício a Deus.

Só podemos ser oferta de sacrifício vivo se estivermos em comunhão com o sacrifício Divino do Corpo de Cristo, no qual encontramos a vida eterna.

Por isso, há o sinal exterior que institui a realidade misteriosa dessa união:

“O CÁLICE DE BENÇÃO, QUE BENZEMOS, NÃO É A COMUNHÃO DO SANGUE DE CRISTO? E O PÃO QUE PARTIMOS NÃO É A COMUNHÃO COM O CORPO DE CRISTO? NÃO ENTRAM EM COMUNHÃO COM O ALTAR OS QUE COMEM AS VÍTIMAS? (I Coríntios 10.16, 17 e 18)”

“[…] QUEM COME A MINHA CARNE E BEBE O MEU SANGUE PERMANECE EM MIM E EU NELE; QUEM COME A MINHA CARNE E BEBE O MEU SANGUE TEM A VIDA ETERNA; E EU O RESSUSCITAREI NO ÚLTIMO DIA. POIS A MINHA CARNE É VERDADEIRAMENTE UMA COMIDA, E O MEU SANGUE VERDADEIRAMENTE UMA COMIDA.” (São João 6. 54 a 56)

Assim, a adoração cristã é o culto de amor e comunhão por excelência, onde por meio da união sobrenatural com o Cristo sacrificado, o profano se une ao santo para se santificar; a morte se une a vida para ressuscitar; e a humanidade devedora se une a Divindade que lhe redime de todas as dívidas, no que se responde as questões:

 

1 – Deus não deixou a cargo do pecador estabelecer como deve ser adorado.

Ele não deixou essa escolha a critério da imperfeição humana, mas estabeleceu forma solene e conteúdo para que a adoração fosse útil à salvação.

Por isso, o serviço da adoração é também de reparação, o qual não encontramos nas danças, músicas, no prantear ou em qualquer outra reação emocional ou artística, vazia e desprovida de quaisquer atos de arrependimento e reparação.

A adoração de Moisés reparava o pecado na esperança do sacrifício futuro de Jesus, simbolizado no cordeiro animal.

Com o cálice do sangue dos carneiros em mãos, o patriarca aspergiu sobre o seu povo e lhes disse:

“EIS O SANGUE DA ALIANÇA QUE O SENHOR FEZ CONVOSCO.” (Êxodo 24. 8)

Do mesmo modo, Cristo tomaria em mãos o cálice do vinho e diria:

“ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA ALIANÇA.” (São Mateus 26. 28)

Assim, a nova adoração repararia o pecado na certeza do sacrifício de Jesus que já nos é disponibilizado, e com o qual nos unimos, não em simbologia, mas na realidade da carne e do sangue milagrosamente contidos no pão e vinho:[12]

 

2 – Adorar não consiste darmos o que temos de melhor para Deus, e sim, dar a Deus aquilo que lhe é devido por direito.

Caim, sendo agricultor, ofertou o melhor do mérito do seu trabalho:

“OFERECEU CAIM, OS FRUTOS DA TERRA DEDICADOS AO SENHOR; MAS O SENHOR NÃO OLHOU PARA SUA OFERTA, NEM PARA OS SEUS DONS.” (Gênesis 4. 3 e 5)

Por outro lado, a oferta de Abel representou Cristo, pois no cordeiro animal sacrificado haviam sinais que futuramente estariam na cena da crucificação, como dor, vida, morte, sangue, carne dilacerada e lágrimas:

“ABEL, DE SEU LADO, OFERECEU DOS PRIMOGÊNITOS DO SEU REBANHO; E O SENHOR OLHOU COM AGRADO PARA ABEL E SUA OFERTA.” (Gênesis 4. 4)

Abel ofertou o melhor de Deus para Deus, na inocência e pureza do animal que morre, para que seu sangue isentasse o pecador do pecado.

A inocência era ofertada em troca da remissão dos delitos.

Ora, Deus não recebe aquilo que não lhe é digno.

E o que lhe é devido não é o que melhor temos, pois não há nada de bom ou reparatório naquele que já não é justo por conta de sua natureza corrompida.

 

3 – A adoração antiga se fazia com o sangue de animais: 

LEVARÁ AO SACERDOTE, EM SACRIFÍCIO DE REPARAÇÃO, UM CARNEIRO SEM DEFEITO, TOMADO DO REBANHO, SEGUNDO SUA AVALIAÇÃO. O SACERDOTE FARÁ POR ELE A EXPIAÇÃO DA FALTA COMETIDA POR INADVERTÊNCIA, INCONSCIENTEMENTE, E ELE SERÁ PERDOADO.” (Levítico 5, 18)

A adoração de Moisés era um oráculo que anunciava no futuro a adoração instituída em Cristo.

Um bem só tem utilidade se usufruirmos dele.

De nada vale termos uma casa, se não morarmos nela.

Assim também é o sacrifício de Cristo, que só nos é útil se o tomamos em adoração.

Por isso, Cristo não encerrou a adoração, mas a aperfeiçoou, Nele, e sendo perfeita, é eterna, cujos efeitos se perpetuam até hoje na EUCARISTIA, para realizar de fato, a comunhão com Deus, conforme disseram os profetas:

[…] OBSERVAREIS ESSE COSTUME COMO INSTITUIÇÃO PERPÉTUA PARA VÓS E VOSSOS FILHOS. (Êxodo 12.24)

“[…] SOBRE A MESA DOS PÃES DA PROPOSIÇÃO, O PÃO PERPÉTUO ESTARÁ SOBRE ELA.” (Números 7. 4)

“[…] NÃO FALTARÃO JAMAIS DESCENDENTES AOS SACERDOTES E AOS LEVITAS PARA OFERECER OS HOLOCAUSTOS, QUEIMAR OFERENDAS, E CELEBRAR O SACRIFÍCIO DE CADA DIA.” (Jeremias 33. 15 à 18)

Disso resulta que na adoração, nos tornamos parte do sacrifício de Cristo na cruz, em realidade, e não em ficção, como diz a Escritura:

“[…] JÁ ESTOU CRUCIFICADO COM CRISTO.’ (Gálatas 2, 20)  

Estar crucificado com Cristo, no Santíssimo sacramento da EUCARISTIA, consiste na verdadeira, única, exclusiva e perfeita adoração.

Quem não adora coloca em risco sua própria salvação, porque descumpre o principal dos mandamentos, o que lhe impede obter a reparação necessária à vida eterna.

 

4 – O que se dá a Deus é superior ao que se dá as coisas e as criaturas de Deus.

Logo, o afeto e honra que devotamos aos pais, a esposa, ao esposo, os santos, ao sacerdócio e as escrituras, por exemplo, são inferiores aos que damos a Deus, pois a Ele reconhecemos como criador, e só Nele obteremos a vida eterna.  

Venerar se distingue claramente de adorar, porque o culto de adoração – latria, só pode ser feito através do sacrifício de Cristo, para perdão dos pecados e comunhão com Deus a partir da comunhão com o crucificado.

O ato de venerar é a expressão de afeto, honra e respeitabilidade para com tudo aquilo que representa Deus, nos remete a Deus ou aquilo que fora tornado sagrado pelo próprio Deus.

Assim, veneramos os símbolos da nossa fé, os quais nos reportam a memória do sagrado, como se fazia no tempo dos patriarcas e dos reis de Israel:

“SUBINDO AO ALTAR SANTO, HONRAVA OS SANTOS ORNAMENTOS.” (Eclesiástico 50, 12)

“UNGIRÁS O ALTAR DOS HOLO0CAUSTOS E TODOS OS SEUS UTENSÍLIOS; EM VIRTUDE DE TUA CONSGRAÇÃO, O ALTAR SE TORNARÁ UM LOCAL SANTÍSSIMO.” (Êxodo 40, 10)

 

PÃO E VINHO SÃO VERDADEIRAMENTE CARNE E SANGUE?

 


[1] Hebreus 7. 27 e 9.28)

[2] Lucas 4, 8.

[3] ‘Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.’ (Rm 12, 1)

A palavra latréus (λατρείαν), em sua origem, no grego, significa um serviço ou obra que se presta em condição de servidão exclusivamente a Divindade. Mas não é qualquer obra ou serviço, senão, apenas os de natureza sacrificial.

[4] Só a Deus supremo e único devemos oferecer sacrifícios de adoração. Art. 2. DA ADORAÇÃO. Suma Teológica. Sto Tomás.

[5]  ‘Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; (Mt 10, 37)

[6] Padres Apostólicos, Hermas, o pastor, ano. Par. 1° Quarta Visão, Dos Mandamentos. Cap. 26.

[7] Assim diz o Senhor, o Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e sou o último; e além de mim não há Deus. (Is 44, 6) No princípio era o Verbo; e o Verbo era Deus; e o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, pleno de graça e verdade. (Jo 1. 1, 14)

[8] Foi em virtude desta vontade de Deus, que temos sido santificados uma vez para sempre, PELO SACRIFÍCIO DO CORPO DE JESUS CRISTO.” (Hebreus 10,10)

“Ele nos reconciliou PELA MORTE DE SEU CORPO HUMANO, para que nos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai.” (Colossenses 1.22)

“Ele carregou nossos pecados EM SEU CORPO SOBRE O MADEIRO, para que mortos pelos nossos pecados, vivamos para a Justiça. Por fim, POR SUAS CHAGAS FOMOS CURADOS.” (Is 53, 5) (I São Pedro 2, 24)

[9] Encíclica Redemptor Hominis, cap. I.

[10] ‘Pedro, porém, disse: “Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho, eu te dou.’ (Atos 3, 6)

[11] Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis. Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar. Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém. Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas.’ (Salmo 50. 19, 20 e 21)

[12] Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. (Jo 5. 55 e 56)

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