PÃO E VINHO SÃO VERDADEIRAMENTE CARNE E SANGUE?

Crêem alguns1 que a carne e sangue de Cristo não estão verdadeiramente sob as aparências do pão e vinho consagrados e benzidos pelo sacerdote, e o que Jesus instituiu na última ceia foi apenas um teatro para animar os deveres cristãos através da lembrança do seu martírio.

2 – No mais, só há pão e vinho, vez que Cristo ao subir aos céus, já não se faz presente entre nós, senão apenas em Espírito.

3 – Além disso, fora ofertado na cruz de uma vez por todas2no passado, não podendo ser novamente oferecido em sacrifício real de sangue e carne, pois ser ofertado inúmeras vezes, implicaria inúmeras ter que morrer.

MAS EM CONTRÁRIO:

O PRÓPRIO CRISTO, DURANTE A REFEIÇÃO, AO PARTIR O PÃO E PARTILHAR O CÁLICE DE VINHO, AFIRMOU CATEGORICAMENTER:  TOMAI E COMEI, ISTO É MEU CORPO. DEPOIS TOMOU O CÁLICE, DIZENDO: BEBEI TODOS, ISTO É MEU SANGUE. FAZEI ISSO EM MINHA MEMÓRIA.”

SOLUÇÃO:

Convém que as coisas da fé se mostrem invisíveis para honra e mérito da própria fé. Neste sentido, restou dito a Tomé:

FELIZ AQUELE QUE NÃO VIU, E CREU.”  (São João 20, 14) 

Através da realidade visível do pão e vinho que vemos e recebemos, comungamos com as realidades invisíveis da carne e sangue ali presentes. Percebemos pelos sentidos aquilo que é próprio e limitado aos sentidos.

Todavia, a fé é a certeza das realidades invisíveis que coabitam nas realidades visíveis. (Hebreus 11, 1)

As profecias anunciaram a Eucaristia:

PARECIA-VOS QUE EU COMIA E BEBIA CONVOSCO, MAS O MEU ALIMENTO É UM MANJAR INVISÍVEL, E MINHA BEBIDA NÃO PODE SER VISTA PELOS HOMENS.” (Tobias 12.19);

[…] REUNI-VOS PARA UM GRANDE SACRIFÍCIO NAS MONTANHAS DE ISRAEL. NESSE SACRIFÍCIO AO QUAL VOS CONVIDO, COMEREIS GORDURA ATÉ VOS FARTARES, E BEBEREIS SANGUE ATÉ A EMBRIAGUEZ3, DO SACRIFÍCIO QUE OFERECI POR VÓS.” (Ezequiel 39. 17, 18 e 19)

Ora, muitos dos seus discípulos também não creram:

“[…] COMO PODE ESTE HOMEM NOS DAR DE COMER SUA CARNE? QUEM PODE ADMITIR ISSO?4 (Jo 6. 52)

Cristo, por sua vez, lhes responde:

ISSO VOS ESCANDALIZA?” (São João 6, 61)

Nisso então, se responde as questões.

 

1 – Se carne e sangue não estão verdadeiramente no pão e no vinho, enquanto miraculosa realidade, então devem estar SIMBOLICAMENTE. Todavia, isso contraria o que disse Cristo:

MINHA CARNE É VERDADEIRAMENTE UMA COMIDA, E MEU SANGUE VERDADEIRAMENTE UMA BEBIDA5,

“EM VERDADE NOS DIGO: SE NÃO COMERDES A CARNE DO FILHO DO HOMEM, E NÃO BEBERDES O SEU SANGUE, NÃO TEREIS A VIDA EM VÓS. QUEM COME A MINHA CARNE E BEBE O MEU SANGUE TEM VIDA ETERNA; E EU O RESSUSCITAREI NO ÚLTIMO DIA.6

Animação é o ópio da fé. Jesus trata o pão e vinho como sua própria carne e sangue.

Ora, só é possível admitir que Cristo tenha falada simbolicamente se negarmos suas palavras, no que negaríamos confiança ao que disse.7

Ele nada fez que ficasse limitado a lembrança passada, pois tudo que instituiu foram realidades eternas e necessárias à nos religarmos à Deus, as quais transcendem aos sentidos, tempo e a compreensão natural.

No ofertório do PÃO DA VIDA não há lugar para alimentos comuns, pães da morte com os quais incrédulos se alimentam:

NÃO ASPERGIRÃO VINHO AO SENHOR, NEM OFERECERÃO SACRIFÍCIOS EM SUA HONRA. SEU PÃO SERÁ UM PÃO DE LUTO: TODOS OS QUE DELE COMEREM SE CONTAMINARÃO. ESSA REFEIÇÃO É PARA SEUS APETITES E NÃO PARA SER APRESENADA NA CASA DO SENHOR. (Oséias 9, 4)”

2 – Se existe apenas pão e vinho, isso contraria as Escrituras, que dizem que:

“[…]  O REINO DE DEUS NÃO É COMIDA, NEM BEBIDA”. (Romanos 14, 17)

Em Cristo, a humanidade é inseparável da Divindade, pois o homem-Deus, tornou-se inseparável do Deus-homem.

O Verbo que é a imagem da inteligência divina se fez carne sem deixar de ser Deus.8Nisso contemplamos a sublime união9, e crer nisso é da nossa fé.10

Cristo, sendo plenamente Deus, é ONIPRESENTE por completo, não só em divindade, mas também em humanidade, e se prometera que estaria conosco até o fim dos tempos, é certo que estaria por completo, em CORPO e ESPÍRITO DIVINO, podendo sua humanidade ser encontrada onde disse que estaria:

ISTO É MINHA CARNE, ISSO É MEU SANGUE.

Ora, o que é corpo senão basicamente carne e sangue?

Sua humanidade não está presa às leis naturais.

Algo não pode ter forma diversa do que ela é.

Mas essa limitação não se aplica ao agente Divino, que tudo pode.11 

E se Deus pôde se fazer homem, por que o Homem-Deus não poderia se fazer em alimento sagrado?

3 – No antigo Testamento, a ceia do pão e vinho era simbolizada no sacrifício animal de cordeiros e ovelhas, os quais tinham seu sangue aspergido e sua carne ingerida para remissão dos pecados.12 

O sacrifício de Jesus tomou lugar no martírio dos animais, e diferente do antigo pacto onde cada oferta equivaleria a um animal abatido, o martírio de Cristo é manifestação ETERNA13 , significando que os efeitos da cruz são contínuos, infindáveis e perenes, e o que é eterno não cessa, e não se limita ao passado,  presente ou futuro, não sendo repetido,14 MAS ATIVADO, e João testemunhou a eternidade do martírio de Jesus, quando o vês ainda com as marcas da crucificação:

EU VI NO MEIO DO TRONO UM CORDEIRO DE PÉ, COMO QUE IMOLADO.” (Apocalipse 5. 6)

A CEIA EUCARÍSTICA É APENAS LEMBRANÇA DO CORPO DE CRISTO?


1  A Ceia do Senhor Jesus foi instituída para lembrança perpétua e demonstração do sacrifício; nesta ordenança, Cristo não é oferecido ao Pai, nem qualquer sacrifício real é feito de modo algum para remissão dos pecados dos vivos ou mortos, mas um memorial daquela oferta única de Si mesmo, (Confissão da Fé Batista, Londres, 1. 648 art. 1 e 2. Cap. 30)

2Hebreus 9. 12 e 10. 14.

3 A embriagues, obviamente é uma referência cara ao sangue transubstanciado no VINHO, enquanto a gordura é uma referência cultural a melhor CARNE. Há ainda nesta profecia, referência aos altares das Igrejas. Altar é figura do local superior ou montanha, tal como israel, o povo eleito de Deus, é figura dos membros de sua Igreja.

4 Jo 6. 52 e 60.

5Pois a MINHA CARNE É VERDADEIRAMENTE UMA COMIDA, E MEU SANGUE VERDADEIRAMENTE UMA BEBIDA. (Jo 6, 55)” O termo “verdadeiramente” no grego é ALÉTHÉS (ἀληθής), o qual emprega sentido real, não simbólico. Comparemos: — “Tu és VERDADEIRAMENTE (ἀληθής) O FILHO DE DEUS.” (Mt 14, 33). E ainda: — “Eu sou a VIDEIRA VERDADEIRA (ἀληθής) (Jo 15. 1). Cristo também utilizou metáforas, comparando-se, por exemplo, a uma “porta:” “Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. (Jo 10, 7) Mas a palavra “verdade” aí empregada é AMÉN (ἀμήν) que é a confirmação de uma ideia ou pensamento, e não de uma realidade  fática, como aléthés (ἀληθής).

6Jo 6. 39.

7 Que o corpo e sangue de Cristo estão verdadeiramente no sacramento do Altar, não podemos apreendê-la nem pelos sentidos nem pelo intelecto; mas só pela fé, que se apoia na autoridade divina. Por isso, àquilo do Evangelho—este é o meu corpo, que se dá por vós, diz Cirilo: Não duvides da verdade disto, mas antes tem fé nas palavras do Salvador, que, sendo a verdade, não mente.” (Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. Q 75, art. 1, Livro IIIa)

8Jo 1. 1-14.

9União em hipóstase. Deus está na humanidade de Cristo sem separação, sem confusão, sem divisão. Podendo agir como Deus sem deixar de ser homem; agir como homem sem deixar de ser Deus, e agir simultaneamente como Deus e homem. (Concílio da Calcedônia, ano 451)

10Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de Deus; (I São João 4, 2)” E ainda Santo Atanásio, anos 296-373 – Sobre a Encarnação do Verbo de Deus. GOMES, C. Folch. Antologia dos Santos Padres. Ed. Paulinas. São Paulo, 197

11AQUINO. Santo Tomas. Livro IIIa Pars. Suma Teológica. Q 75, art. 4.

12is aqui o que diz o Deus de Israel: Amontoai holocaustos sobre sacrifícios, e deles comei a carne; (Jeremias 7, 21) “1. O Senhor disse a Moisés: “Dize aos israelitas o seguinte: 12. No mesmo dia em que o molho for agitado, oferecereis ao Senhor em holocausto um cordeiro de um ano, sem defeito, 13. Ajuntando a ele uma oferta de dois décimos de flor de FARINHA AMASSADA COM ÓLEO, como sacrifício pelo fogo de agradável odor ao Senhor, e mais uma libação de vinho, constando de um quarto de hin7. 18. Oferecereis com o pão em holocausto ao Senhor sete cordeiros de um ano, sem defeito, um novilho e dois carneiros, acompanhados da oferta e da libação: este será um sacrifício de agradável odor ao Senhor. (Levítico, 23)” “Seguirás o teu caminho até o carvalho de Tabor, onde se apresentarão a ti três homens que sobem a adorar a Deus em Betel, levando uns três cabritos, outro três fatias de pão, e o terceiro um odre de vinho. (I Samuel 10, 3)”

13Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (não deste mundo), sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma REDENÇÃO ETERNA. (Hebreus 9, 12)

14Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz no qual Cristo foi imolado, reaviva-se a obra da nossa redenção.”(§ 1364 do Catecismo)

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial