O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA?

1 – Supõem alguns que o Espírito Santo não seja uma Pessoa, mas uma força Divina atuante no ser humano, porquanto Cristo ao dizer de si, disse que era uno apenas no Pai, nada dizendo sobre estar unido também no Espírito Santo, como relatado: “Eu e o Pai somos um, quem vê a mim vê ao Pai.1

2 – Também não há nas Escrituras nenhuma menção expressa de ser o Espírito Santo uma Pessoa Divina.

3 – No mais, parece que o Espírito Santo é apenas o canalizador dos dons espirituais,2 lhe faltando uma personalidade racional.

4 – Além disso, toda pessoa é predita por um nome próprio e exclusivo. O Pai se predica por Javé que significa aquele que é eternamente, assim como o Filho se predica por Verbo que significa a sabedoria que veio do alto, de Deus, e enquanto Verbo Encarnado se predica Emanuel que significa Deus Conosco. Todavia, parece que o Espírito Santo não se predica por qualquer nome.

5 – Por fim, para que pudesse ser considerado Pessoa Divina, parece que lhe faltou participar da obra da criação e do juízo final, como participam as Pessoas do Pai e do Filho.

MAS EM CONTRÁRIO, disse Santo Atanásio que a fé Católica consiste “[…] EM ADORAR UM SÓ DEUS EM TRÊS PESSOAS, E TRÊS PESSOAS NUM SÓ DEUS.3 E assim ensina a Igreja há mais de dois mil anos: “CREIO NO ESPÍRITO SANTO, SENHOR QUE NOS DÁ A VIDA, E PROCEDE DO PAI E DO FILHO; E COM O PAI E O FILHO É ADORADO E GLORIFICADO.”

SOLUÇÃO: Podemos chamar de pessoa todo ser racional que por meio de sua vontade e sua razão é apto a interagir racionalmente com Deus, com outros seres e com toda obra da criação Divina4, no que se responde as questões acima.

1 – Os macedonitas, nos anos 340, entendiam equivocadamente nessa passagem, que Cristo ao se dizer uno no Pai, excluía ser uno no Espírito Santo, e assim começaram a ensinar que o Espírito não era Deus, mas criatura, uma força criada para agir no ser humano. Com isso, eles se afastaram da fé Católica, e suas ideias foram repelidas no II Concílio de Constantinopla (ano 382). Ensina a Igreja, que Deus se revela à medida que nos encontramos aptos para receber sua revelação. Naquele momento não era oportuno a Cristo revelar-se no Espírito Santo, mas revelar que o Pai subsiste no Filho e o Filho no Pai de modo inseparável e consubstancial. Posteriormente, Jesus se revelaria unido ao Pai e ao Espírito Santo, quando disse: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os EM NOME DO PAI, E DO FILHO, E DO ESPÍRITO SANTO. (São Mateus 28.19). Além disso, sobre o Espírito é dito que ele é a Verdade, assim como também Cristo é a Verdade, o que demonstra serem unos o Filho e o Espírito: “O ESPÍRITO É QUE DÁ TESTEMUNHO DELE PORQUE O ESPÍRITO É A VERDADE. ” (I São João 5, 6); “EU SOU A VERDADE, DISSE JESUS. ” (São João 14. 6). Nisso vemos o Filho unido ao Espírito, tanto quanto o Espírito é unido ao Filho e ambos, por consequência unidos ao Pai. Logo, quem nega ao Pai, nega ao Filho; e quem nega ao Filho, nega ao Espírito e ao Pai; e quem nega ao Espírito, nega ao Pai e ao Filho.

2 – Segundo nossa Santa Tradição, o Espírito Santo detém uma essência intelectual perfeita que o torna passível de saber se está sendo honrado ou desonrado. E quando é desonrado pela blasfêmia,5 que é o pecado praticado exclusivamente contra o ele, é dito que não haverá perdão. Ora, somente o pecado contra uma Pessoa Divina tem tamanha repercussão e importância ao ponto de reter o perdão, pois só se blasfema contra Deus: “Por isso vos digo: Todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não lhes será perdoado. ” (São Mateus 12, 31). Assim, embora não esteja expressa nas Escrituras, está expressa na Tradição, a Pessoalidade do Espírito Santo, e a Tradição e as Escrituras são unas.

3 – O Espírito Santo interage com o Pai, com o Filho e conosco. E para interagir intelectualmente precisa-se de uma personalidade e a personalidade não existe fora da Pessoa. O Espírito Divino interage nos fazendo promessas: “[…] tendo recebido do Pai a PROMESSA DO ESPÍRITO SANTO, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. ” (Atos 2. 33). Ele se entristece com nossa perdição e infidelidade: “NÃO ENTRISTEÇAIS O ESPÍRITO SANTO DE DEUS. ” (Efésios 4, 30). Nos santifica: […] segundo o ESPÍRITO DA SANTIFICAÇÃO. ” (Romanos 1. 4) Partilha conosco seus dons e sabedoria: “[…] por SINAISMILAGRES, E VÁRIAS MARAVILHAS E DONS DO ESPÍRITO SANTO. ” (Hebreus 2. 4); “Pelo ESPÍRITO É DADA A PALAVRA DA SABEDORIA. ” (I Coríntios 12, 8). Se o Espírito Santo, por atos de vontade e intelecto, partilha conosco aquilo que é próprio dele, obviamente não é apenas canal ou instrumento desses dons, mas autenticamente Pessoa.

4 – Nomes ou identidades públicas não são conferidos, senão a indivíduos ativos no propósito de distingui-los de outros. Por isso, o Pai se predica Javé, e o Filho Verbo ou Emanuel. Já o Espírito Santo se predica PARÁCLITO, que significa AMOR QUE CONSOLA, ENCORAJA E ANIMA, sendo AMOR o seu nome próprio, e como ensinavam o Apóstolo e o sábio, ele é o “[…] AMOR DE DEUS, DERRAMADO EM NOSSOS CORAÇÕES. ” (Romanos 5. 5), porque “[…] O PAI AMA PELO ESPÍRITO SANTO, NÃO SÓ O FILHO, MAS TAMBÉM A SI MESMO E TODA CRIAÇÃO”. (Suma Teológica, art. 2º Q 37 Livro Ia, in Santo Tomás de Aquino)” Também pelo Nome do Espírito Santo é ordenado a Igreja: “IDE, FAZEI DISCÍPULOS DE TODAS AS NAÇÕES, BATIZANDO-OS EM NOME DO PAI, E DO FILHO, E DO ESPÍRITO SANTO. ” (São Mateus 28.19).

5 – O Espírito Santo teve participação contemplativa na criação, pois quando o Pai criava todas as coisas, o seu Espírito Divino “PAIRAVA SOBRE AS ÁGUAS. ” (Gênesis 1.3) Na criação do ser humano se tem o ato criacionista descrito no plural, demonstrando que a humanidade é obra conjunta da Trindade: “FAÇAMOS o homem à nossa imagem e semelhança. ” (Gênesis 1. 26)” “O ESPÍRITO SANTO ME FEZ, e a inspiração do Todo Poderoso me deu vida. (Jó 33.4)” No plano da salvação, atuou o Espírito Santo de maneira pessoal, especial e exclusiva na geração do Verbo Encarnado, o qual seria nosso sacrifício de redenção: “Não temas receber Maria, tua Mulher, PORQUE O NELA ESTÁ GERADO É DO ESPÍRITO. (São Mateus 1. 20)” Portanto, é o ESPÍRITO SANTO uma das três PESSOAS DIVINAS, distinta, mas unida as demais, que estava na criação, e que também está no plano da salvação do gênero humano.


1 São João 14. 16

2 Dons ou Carismas são aptidões extraordinárias conferidas pelo Espírito Santo, úteis a perfeição e a comunhão com Deus e com o próximo. Os principais carismas são sete: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, temor de Deus, e o mais importante, a piedade ou dom da caridade. Mais existem muitos outros. (Catecismo § 1.830)

3 Símbolo Niceno Constantinopolitano, ano 325, e o “Credo de Atanásio, Quicumque Vult, anos 296 a 373, art. I, II, II e IV.”

4Pessoa é a substância individual, animada e racional, aquilo que dá a essência e a natureza racional ao ser, e que é princípio último de uma individualização orgânica, conforme os pensamentos de Aristóteles (Metafisica Livro I), e posteriormente, o pensamento mais apurado sobre o tema, de Santo Agostinho, em sua obra “Tratado da Trindade”.

5Blasfêmia é o pecado do ódio, é de maneira consciente e voluntário ter ódio absoluto e intenso contra o Amor de Deus que é o Espírito Santo. É desprezá-lo e maldizê-lo, desprezando e maldizendo assim toda graça e misericórdia, rejeitando sua bondade, amor e caridade. É grave porque exclui a humildade necessária para que todo pecador suplique a salvação. É o pecado dos demônios, mas embora caso raro, pode também se dar nos seres humanos, e o blasfemo carrega esse pecado até a morte. (Santo Agostinho)

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