1 – Parece que Isaque não foi uma antiga representação de Jesus, porque inexiste semelhança possível entre o ser humano e Deus, razão porque não poderia haver identificação entre Isaque, o filho de Abraão; e Jesus, o Filho de Deus, que também é Deus, pois Deus é incomparável[1].
2 – No mais, Deus jamais quis o sacrifício de Isaque, sendo apenas um teste à fé de Abraão.[2] Diversamente, Jesus veio ao mundo para que com sua morte causasse a redenção da humanidade, de onde disse: […] Pai, livrai-me desse cálice; […] mas seja feita a tua vontade, não a minha[3].
MAS EM CONTRÁRIO:
Jesus é chamado filho de Abraão:
GENEALOGIA DE JESUS CRISTO, FILHO DE DAVI, FILHO DE ABRAÃO.” (Mateus 1, 1)
SOLUÇÃO:
Nas antigas Escrituras se esconde a nova.
E na nova, por sua vez, é que as antigas são desvendadas.
A vinda de Cristo já nos era preparada, desde o Antigo Testamento.
No oculto das suas antigas figuras, letras, personagens, sinais e símbolos, a vinda de Cristo se fez anunciada.
Na tipologia[4] dos antigos patriarcas, profetas, reis, e na semelhança com o velho Testamento, dos acontecimentos que marcaram o novo, Deus revela o Filho, CRISTO, anunciado para o futuro juntamente com os eventos que marcariam o plano da salvação:
“CATECISMO §128: A Igreja, já nos tempos apostólicos, e depois constantemente em sua Tradição, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos, graças à tipologia. Esta discerne, nas obras de Deus contidas na Antiga Aliança, prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado.”
“CATECISMO §129: Por isso os cristãos lêem o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Ela não deve levar a esquecer que este conserva seu valor próprio de Revelação, que o próprio Nosso Senhor reafirmou. De resto também, o Novo Testamento exige ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã primitiva recorre constantemente a ele, e, segundo um adágio antigo, o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo”.
Jesus se faz presente no Antigo Testamento.
Lendo o antigo partindo do novo, tendo Cristo como elo entre as duas disposições testamentárias, se nota em Isaque, filho de Abraão, uma das várias prefigurações do CRISTO:
* DA ANUNCIAÇÃO:
Deus anunciou a Abraão por meio de três anjos, o nascimento de Isaque; como à Maria por meio do anjo Gabriel, o nascimento do Redentor:
“O Senhor apareceu a Abraão que levantou os olhos e VIU TRÊS HOMENS DE PÉ DIANTE DELE. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, VEIO-LHES AO ENCONTRO E PROSTROU-SE POR TERRA. E disseram-lhe: “Onde está Sara, tua mulher?” “Ela está na tenda” – Respondeu Ele: “Voltarei à tua casa dentro de um ano, a esta época; e SARA, TUA MULHER, TERÁ UM FILHO.” (Gênesis 18-1, 2, 9 e 10)
“Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. O anjo disse-lhe: “EIS QUE CONCEBERÁ E DARÁS A LUZ UM FILHO, e lhe porás o nome de Jesus.” (Lucas 1. 28, 29, 30 e 31)
* O NASCIMENTO MIRACULOSO:
A idade avançada de Abraão; sua esposa estéril por sua longevidade; e a virgindade de Maria que concebe sem contato com homem, não impediram o nascimento de seus primogênitos:
“Abraão e Sara eram velhos, de idade avançada, E SARA TINHA JÁ PASSADO DA IDADE.” (Gênesis 18, 11)
“Abraão TINHA 100 ANOS quando Isaque nasceu. Sara declarou: “Deus me fez sorrir. (Gênesis 21. 5 e 8)
“Sara disse: Quem teria previsto que Sara amamentaria O filho de Abraão? (Gênesis 21. 6 e 7)
“Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, POIS NÃO CONHEÇO HOMEM? Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra.” (Lucas 34, 35)
Logo, a natividade de Isaque, e, depois, de Cristo, suplantou todo e qualquer obstáculo fisiológico ou natural que impediriam a concepção, e por seu turno, a geração e o nascimento.
* DA PRIMOGENITURA:
Cristo é o primogênito do Pai:
“Ele é a imagem de Deus invisível, o PRIMOGÊNITO de toda a Criação.” (Colossenses 1, 15)
Isaque adquiriu a condição de primogênito com todos os direitos legais assegurados, por seu o único filho legítimo que Abraão teve com sua esposa Sara:
“ABRAÃO DEU TODOS OS SEUS BENS A ISAAC. Quanto aos filhos de suas concubinas, só lhes deu presentes,” (Gênesis 25. 6, 7)
Toma teu filho, TEU ÚNICO FILHO, a quem tanto amas, ISAAC;” (Gênesis 22.2)”
* O ANÚNCIO DA MORTE.
Isaque foi preparado para um sacrifício mortal:
“Deus disse: “TOMA TEU FILHO, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu O OFERECERÁS EM HOLOCAUSTO sobre um dos montes que eu te indicar”. (Gênesis 22, 2)
E assim também o foi Jesus Cristo:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que DEU SEU FILHO UNIGÊNITO, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3. 16)
“Mas ELE FOI CASTIGADO POR NOSSOS DELITOS, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.” (Isaías 53, 5)
* CARREGARAM NOS OMBROS A MADEIRA NA QUAL SEUS CORPOS REPOUSARIAM:
Isaque subiu o MONTE MORIÁ, carregando sobre os ombros a madeira sobre a qual se realizaria o sacrifício do seu corpo:
“Abraão tomou a LENHA DO HOLOCAUSTO E PÔS NOS OMBROS DE SEU FILHO ISAAC;” (Gênesis 22, 6)
No mesmo modo, Deus colocou o madeiro da cruz sobre os ombros de seu Filho e o fez seguir até o CALVÁRIO:
“ELE PRÓPRIO CARREGAVA A SUA CRUZ para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota.” (João 19, 17)
*FORAM UNIDOS À MADEIRA NA QUAL MORRERIAM:
Isaque foi amarrado à lenha, onde após sua morte, iria ser queimado em sacrifício de holocausto:
“No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou dois servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha indicado. Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; COLOCOU NELA A LENHA, E AMARROU ISAAC, seu filho, E O PÔS SOBRE O ALTAR EM CIMA DA LENHA.’ (22.3 e 9)
Cristo foi pregado na madeira da cruz para ser mortificado:
“Os outros discípulos disseram-lhe: “Vimos o Senhor”. Mas ele replicou-lhes: “Se não vir nas suas mãos o SINAL DOS PREGOS, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!” (São João 20, 25)
“Jesus, que vós matastes, SUSPENDENDO-O NUM MADEIRO.’ (Atos dos Apóstolos 5, 30)
* DO SACRIFÍCIO NUMA DAS MONTANHAS DE ISRAEL.
O destino de Isaque, primogênito de Abraão, haveria de ser selado no cume do Monte Moriá:
“[…] oferecerás em sacrifício SOBRE UM DOS MONTES que eu te indicar.” (Gênesis 22.2)
Enquanto o destino de Jesus, primogênito de Maria, foi selado no alto do Calvário:
“Chegados que foram ao LUGAR CHAMADO CALVÁRIO, ali o crucificaram.” (Lucas 23, 33)
* CHEGARAM AO LOCAL AONDE MORRERIAM TRANSPORTADOS POR ANIMAL:
Isaac chegou ao local do seu sacrifício, no Monte Moriá, montado num JUMENTO:
“Abraão selou o seu JUMENTO. Tomou consigo dois servos, e tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha indicado;” (Gênesis 22.3)”
Assim também chegou Cristo, no dorso de um animal, em Jerusalém, cidade aonde situa o Monte Calvário:
“Trouxeram a JUMENTA E O JUMENTINHO, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no MONTAR.” (Mateus 21,7)”
Nisso então, se responde as questões:
1 – Na plenitude dos tempos foi prometido que Deus viria como homem, para que toda humanidade pudesse ir à Deus.
O Mediador entre os dois, sendo humano e Divino, assumiu a obra de misericórdia de se tornar um de nós para que, por meio Dele, todo gênero humano fosse enriquecido com os bens sobrenaturais que restabeleceriam a relação de Amor entre a humanidade e o seu Criador, a qual se rompeu pelo desprezo da criação ao seu Criador.[7]
Por isso, durante sua permanência na terra, Ele, que é Deus, e sem deixar de sê-lo, viveu como homem, amou, sorriu, chorou, alegrou e se decepcionou como homem; sentiu as dores físicas e a sofrimento d’alma, como um de nós; e foi gerado por Mulher, sendo adotado por um pai humano.
Nesse sentido, a comparação com qualquer homem ou mulher é cabível, pois, em Cristo, a Divindade se humaniza, tanto quanto a humanidade se tornou Divina.
Logo, em sua humanidade, Cristo e Isaque podem ser comparados.
2 – Quando Deus disse a Abraão que sacrificasse seu filho, além de testar sua confiança e fé, pretendia ainda demonstrar, visivelmente, e por ensaio cênico, o futuro sacrifício de Jesus.
Por isso, antes que Abraão matasse Isaque, Deus interveio, lhe segurou as mãos e ordenou que não tocasse na vida de seu filho:
“ABRAÃO, EIS ME AQUI! NÃO ESTENDA AS MÃOS CONTRA O MENINO, NÃO LHE FAÇAS MAL. AGORA SEI QUE ME TEMES, POIS NÃO ME RECUSASTE TEU PRÓPRIO FILHO, TEU ÚNICO FILHO.” (Gênesis 22. 11 e 12)
Ato contínuo, providencia para tomar o lugar de Isaac, um cordeiro, o qual já se encontrava suspendo, pendurado num arbusto de espinhos. (Gn 22.14)
Quando viu o cordeiro, suspenso nas árvores, Abraão viu o cenário da crucificação do Filho de Deus:
“ABRAÃO, NESTE SACRIFÍCIO, APERCEBEU-SE DA PAIXÃO DE CRISTO.” (Santo Ambrósio de Milão, Livro I, 19-21 e 22)”
Por esta razão, Jesus disse sobre estes episódio aos judeus:
“ABRAÃO EXULTOU DE VER O MEU DIA. VIU E FICOU CHEIO DE ALEGRIA.” (João 8. 56)
[1] “Não há ninguém como o SENHOR, nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas, mas se inclina para ver o que há no céu e na terra.” (Salmo 113)
[2] “Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único.”
[3] Lc 22, 42
[4] Tipologia é a identificação de características comuns ou semelhantes que interligam pessoas ou acontecimentos. Está no âmbito da ANAGOGIA, que por sua vez, conforme o CATECISMO §114, é a coesão (unidade) das verdades da fé entre si, no projeto total da Revelação.
[6] Carta Encíclia MEDIADOR DEI. Papa Pio XII. 1.947)