1 — Parece que não convém ao céu ter uma rainha, pois se no reino de Israel, onde reinou Davi e seus descendentes, não haviam rainhas, também no reinado de Cristo não deve haver, já que o reino de Israel era a figura simbólica do Reino do Céu, a Jerusalém aonde Cristo reina.1
2 — Além disso, a poligamia2 na qual viviam os antigos reis, com centenas ou milhares de esposas e concubinas ao mesmo tempo, os impossibilitou de tornar uma delas sua única rainha.
3 — No mais, o poder da rainha rivalizaria com o Rei, fazendo o reino se dividir, razão porque se supõe que o Reino do Céu não admita uma rainha.
4 — Soma-se que alguns defendem que a “rainha do céu” seja uma figura do paganismo incorporada a Igreja, como antes ocorrera com a fé dos israelitas: “(…) Os filhos juntam lenha, os pais acendem o fogo e as mulheres sovam a massa para fazer tortas destinadas à “rainha do céu”, depois fazem ofertas a deuses estranhos, o que provoca a minha ira.” (Jeremias 17. 18)
MAS EM CONTRÁRIO:
APARECEU EM SEGUIDA UM GRANDE SINAL NO CÉU. UMA MULHER VESTIDA DE SOL, TENDO A LUA DEBAIXO DOS SEUS PÉS. E NA CABEÇA UMA COROA DE DOZE ESTRELAS. (Apocalipse 12.1)
Ora, UMA MULHER, SURGIDA NO CÉU COROADA, NÃO É OUTRA COISA, SENÃO, UMA RAINHA.
SOLUÇÃO:
Sendo o Reino do Céu, mais perfeito que o reino dos homens, não nos é dado supor que na Israel Celestial de Cristo, ainda se manterão as estruturas imperfeitas e corrompidas que antes haviam no reino terreno da antiga Israel de Davi.
Se a todo Rei convém os símbolos da Coroa e do Cedro, assim também lhe convém uma Rainha, a serva mais fiel, útil, feliz e amada dentre todos os seus súditos, na qual é testemunhada de modo mais sublime, a glória, honra, bondade e realeza do seu soberano.
Cristo, sendo Rei, lhe convinha a Coroa de espinhos,3 símbolo espiritual do seu sacrifício ofertado por amor aos seus súditos, e o Cedro, o cajado de Arão, símbolo espiritual do seu sacerdócio.4
Um Rei sem Coroa ou Cedro é Rei sem honra, como um Reino sem Rainha é Casa sem Mãe, sem alegria, vez que a alegria da Rainha se deve ao fato de que só ela teve a honra do Rei habitar em seu ventre:
“CANTA ALEGREMENTE, Ó FILHA DE SIÃO; REJUBILAI, Ó ISRAEL; REGOZIJA-TE, EXULTE DE TODO CORAÇÃO, Ó FILHA DE JERUSALÉM.O SENHOR AFASTOU OS TEUS JUÍZOS, EXTERMINOU O TEU INIMIGO; O SENHOR, O REI DE ISRAEL, ESTÁ NO MEIO DE TI; TU NÃO VERÁS MAL ALGUM.” (Sofonias 3, 14 e 15)
E a Virgem Maria responde:
“MINHA ALMA GLORIFICA AO SENHOR,MEU ESPÍRITO EXULTA DE ALEGRIA EM DEUS.‘ (São Lucas 1. 46 e 47)
Assim, convinha ao Reino do Céu, a Rainha, cuja identidade é revelada na Mãe do Rei:
“O SENHOR VOS DARÁ UM SINAL: UMA VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ A LUZ A UM FILHO, E O CHAMARÁ DEUS CONOSCO.” (Isaías 7, 14)
“APARECEU EM SEGUIDA UM GRANDE SINAL NO CÉU. UMA MULHER, VESTIDA DE SOL, TENDO A LUA DEBAIXO DOS SEUS PÉS. E NA CABEÇA UMA COROA DE DOZE ESTRELAS. ELA DEU A LUZ UM FILHO, UM MENINO, AQUELE QUE DEVER REGER TODAS AS NAÇÕES PAGÃS COM CEDRO DE FERRO. SEU FILHO FOI ARREBATADO PARA JUNTO DE DEUS E DO SEU TRONO.” (Apocalipse 12.1)
Sobre a Rainha celestial, é dito que teria sobre sua cabeça uma Coroa com 12 estrelas – o número das 12 Tribos de Israel; e daria luz à um Filho, cujo dragão tentaria tragá-lo, e para protegê-lo, ela foge com ele para o deserto, tal qual Maria quando deu à luz a Cristo, e o diabo, por meio de Herodes quis assassiná-lo, fugindo grávida pelo deserto até o Egito, provando que as visões da Rainha do céu e a história da Virgem estão entrelaçadas:5
“[…] “APARECEU EM SEGUIDA UM GRANDE SINAL NO CÉU: UMA MULHER REVESTIDA DE SOL, A LUA DEBAIXO DOS SEUS PÉS E NA CABEÇA UMA COROA DE DOZE ESTRELAS. ESTAVA GRÁVIDA […] DEPOIS APARECEU OUTRO SINAL NO CÉU: UM GRANDE DRAGÃO. ESSE DRAGÃO DETEVE-SE DIANTE DA MULHER QUE ESTAVA PARA DAR À LUZ, A FIM DE QUE, QUANDO ELA DESSE À LUZ, LHE DEVORASSE O FILHO. ELA DEU A LUZ UM FILHO, UM MENINO, AQUELE QUE DEVE REGER TODAS AS NAÇÕES PAGÃS COM CETRO DE FERRO. MAS SEU FILHO FOI ARREBATADO PARA JUNTO DE DEUS E DO SEU TRONO. A MULHER FIGIU ENTÃO PARA O DESERTO, ONDE DEUS LHE TINHA PREPARADO UM RETIRO PAARA AI, SER SUSTENTADA. […]” (Apocalipse 12. 1-6)
Conforme profetizado na personagem de Ester, uma mulher haveria de ser coroada, porque:
“[…] GANHOU AS GRAÇAS E O FAVOR MAIS QUE TODAS AS DEMAIS JOVENS. E O REI COLOCOU SOBRE SUA CABEÇA O DIADEMA REAL E A FEZ RAINHA.” (Ester 2, 17)
E assim, se responde as questões.
1 — Na perfeição Divina, há um tempo conveniente para todas as coisas.
Desse modo, não convinha que a rainha fosse instituída antes do Rei, pois ela só existe por causa do Rei, e para servi-lo.
A realeza da Mulher não poderia ser instituída antes da realeza do Homem, pois primeiro Deus criou o homem, e só depois, por meio dele, veio a mulher.
Por isso, antes de fundado o reino de Israel e a coroação dos reis da linhagem de Davi, não poderia haver Rainha, assim como só após a coroação de Cristo, na cruz, (MT 27, 29) pode surgiu no céu a Rainha, com a Coroa de doze diademas, representando as doze Tribos de Israel, porque, antes haveria de ser cumprida, em Cristo, descendente carnal de Davi (MT 1,1), aquela profecia:
“O SENHOR FEZ UM JURAMENTO A DAVI: COLOCAREI EM TEU TRONO UM DESCENDENTE DE SUA RAÇA.” (Salmo 131)
“O SENHOR REINARÁ PARA ETERNAMENTE; Ó SIÃO, TEU DEUS É REI POR TODA ETERNIDADE.” (Salmos 145, 10)”
Como ensinou Santo Agostinho:
“NENHUM FILHO DE DAVI REINOU PARA SEMPRE; NEM SEU REINO DUROU A ETERNIDADE, INDICANDO ASSIM, QUE O RÉU, NASCIDO DA EXTIRPE DE DAVI, É CRISTO.” (AGOSTINHO. Doutrina Cristã p. 68 par, 64)
2 — A relação entre Rei e Rainha há de ser de absoluta fidelidade.
Contudo, numa relação marital corrompida pela poligamia, não se pode dizer que o Rei fosse fiel as suas inúmeras esposas, e nem estas ao Rei, pois fidelidade se cultiva na reciprocidade.
Mas, numa relação maternal sagrda, a Mãe será sempre fiel ao Filho; como o Filho agirá sempre com respeito à Mãe.
Se as esposas dos reis eram incontáveis e substituíveis, a mãe seria sempre a única, fiel ao filho e insubstituível, razão porque, no reinado de Salomão, filho de Davi, Deus levantou a figura da RAINHA MÃE, a qual tomava para si todas súplicas dos seus súditos, e dessa maneira as apresentava ao Rei, como se fossem suas:
PEDE AO REI SALOMÃO, QUE NADA TE RECUSA, QUE ME DÊ ABISAG, A SUNAMITA POR ESPOSA. ESTPA BEM, RESPONDEU BETSABÉ, FALAREI POR TI AO REI. BETSABÉ FOI TER COMO O REU PARA FALAR-LHE EM FAVOR DE ADONIAS. O REI LEVANTOU-SE PARA IR-LHE AO ENCONTRO, FEZ UMA PROFUNDA SAUDAÇÃO E SENTOU-SE NO TRONO. MANDOU COLOCAR UM TRONO PARA A SUA MÃE, E ELA SENTOU-SE À SUA DIREITA.” (1 Reis 2, 17-19)
Partindo daí, surgiu no reino de Israel uma linhagem de rainhas: (1 Reis 14:21; 15: 2, 13; 22:42; 2 Reis 8;26; 1 Reis 15;13)
Cumpria-se, assim uma profecia: “POSTA-SE À VOSSA DIREITA A RAINHA, ORNADA DE OURO DE OFIR.” (SALMOS 44, 10)
Por isso, à direita de Cristo Rei é o lugar reservado e exclusivo da sua Rainha, aquela que é sinal, a Virgem (Is. 14, 4), a Mulher coroada com o diadema das doze estrelas, das doze tribos de Israel. (Ap. 12, 1)
“[…] APROXIMOU-SE A MÃE DOS FILHOS DE ZEBEDEU (João e Tiago, o maior), E PROSTROU-SE DIANTE DE JESUS PARA LHE FAZER UMA SÚPLICA. E PERGUNTOU ELE: QUE QUERES? ELA RESPONDEU: ORDENA QUE ESTES MEUS DOIS FILHOS SE SENTEM NO TEU TRONO, UM À TUA DIREITA E OUTRO À SUA ESQUERDA. JESUS DISSE: NÃO SABEIS O QUE PEDIS. SENTAR À MINHA DIREITA OU ESQUEDA NÃO DEPENDE DE MI CONCEDER. ESSES LUGARES CABEM ÀQUELES AOS QUAIS MEU PAI JÁ RESERVOU.” (São Mateus 20. 20-23)
Ao lado de Cristo Rei, encontram-se assentados à direita e à esquerda, o Poder e a servidão.
À esquerda o Poder, na Pessoa do Deus Pai, do qual Cristo se encontra à direita.
Do outro lado, a servidão, na pessoa de Maria, a Rainha Mãe, para que o seu Trono estivesse cercado pela AUTORIDADE e também pela OBEDIÊNCIA, sem as quais nenhum reinado se estabelece.
3 — A Rainha é a serva mais fiel do Rei, a Mulher que ele mais amou, e a qual foi por ele a mais amada:
“AMO-TE COM AMOR ETERNO, E POR ISSO, A TI ESTENDI O MEU FAVOR. EU TE RECONSTRUIREI, Ó VIRGEM DE ISRAEL! Virás, ornada de tamborins, participar de alegres danças.” (Jeremias 31, 3-4)
O Rei lhe incumbiu de representar com piedade os anseios, necessidades e súplicas do seu povo e dos seus súditos em suas mais profundas aflições.
A Rainha, portanto, há de ser lembrada por todas as gerações, como a que representa seu povo junto ao seu Filho Rei:
À TUA DIRETA ESTAVA A RAINHA, ORNADA DE FINÍSSIMO OURO DE OFIR. OUVE, FILHA, OLHA, INCLINA OS TEUS OUVIDOS; ESQUECE-TE DE TUA TERRA NATAL E DA CASA DE TEUS PAIS. A TUA BELEZA ENCANTOU O REI. ELE É O TEU SENHOR, ADORA-O. OS POVOS SUPLICARÃO O TEU FAVOR, E FAREI TEU NOME SER LEMBRADO EM TODAS AS GERAÇÕES.“ (Salmo 44. 9, 10 e 17)
E disse de si, Maria:
MINHA ALMA ENGRANDECE AO MEU SENHOR, POIS CONSIDEROU A HUMILHAÇÃO DE SUA SERVA! POIS, DORAVANTE, TODAS AS GERAÇÕES ME PROCLAMARÃO ABENÇOADA.” (São Lucas 1.48)
No reino Divino, tudo é ordenado e perfeito, e onde há ordem e perfeição não há rupturas, divisões, confusões ou corrupção, e é por isso que a Rainha jamais rivalizará com o Rei.
3 — Uma das dificuldades de se reconhecer as verdades divinas, consiste que os principais métodos para negá-las sejam a ocultação e a falsificação, sendo esta última mais nociva, pois coloca a pecha de profana nas coisas que são santas, para que misturando-as, se confunda o sagrado com o profano de maneira que dificulte a distinção de uma e outro.
Precisa-se então, da luz Divina, refletiva na autoridade da Igreja (II Tm 3, 15) para diferenciá-las.
O surgimento do falsificado não elimina o verdadeiro.
Um bom exemplo, é Jesus, que é o Rei dos reis.
Mas os pagãos tentaram usurparam dele esse Título, e o deram a Artaxerxes, o rei dos persas, e depois para Nabucodonosor, o reis dos babilônios. Sobre Cristo é dito:
“E NO MANTO E NA SUA COXA TEM ESCRITO ESTE NOME: REI DOS REIS, SENHOR DOS SENHORES.” (Apocalipse 19. 16)
E a respeito dos citados reis pagãos, também era dito:
“ARTAXERXES, REI DOS REIS, A ESDRAS, SACERDOTE E ESCRIBA VERSADO NA LEI DO DEUS DO CÉU, SAUDAÇÕES.” (Esdras 7, 12)
“EIS QUE EU, DESDE O NORTE, TRAREI CONTRA TIRO A NABUCODONOSOR, REI DA BABILONIA, O REI DOS REIS, COM CAVALOS; CARROS; CAVALEIROS E COMPANHIAS.” (Ezequiel 26, 7) “
A Virgem é a Rainha coroada no céu.
Mas os povos pagãos também lhe tentaram usurpar esse Título, dando-lhe a um ídolo.
Todavia, como dito, existência da falsificação não elimina a existência da verdadeira Rainha, que não é ídolo, nem deusa, mas aquela que é Mãe do Rei de todo universo, e que também é Deus.
1 […] Mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, (Apocalipse 21, 10)”
2 “Davi tomou mais concubinas e mulheres em Jerusalém, depois que deixou Hebron e teve delas filhos e filhas. (II Samuel 5, 13)
3 “Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: “Salve, rei dos judeus!”. (São Mateus 27, 29)”
4 Vara é instrumento de medição e também de disciplina. É símbolo com que o rei mede a virtude ou pecado de um súditos, e lhe aplica as correções ou lhe confere as honras. Por isso, é o símbolo do juízo e do sacerdócio de Cristo: “Torna a pôr a vara de Arão perante o testemunho, para que se guarde por sinal para os filhos rebeldes; assim farás acabar as suas murmurações contra mim, e não morrerão.” (Número 17, 10) — “Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores e brotara renovos e dera amêndoas.” (Números 17. 8)
5 A rainha é a representante mais qualificada de seu povo, e a mais próxima do rei. A primeira intercessão da rainha mãe, Batseba, no reino de Davi, foi em favor de um casamento, o matrimônio entre Adonias e Absagi, que necessitava da aprovação do rei Salomão: A primeira intercessão da Rainha Mãe, no reino de Cristo, também foi em prol de um casamento, quando Maria suplicou a Cristo, nas bodas de Caná, que não deixassem os noivos ficarem humilhados e constrangidos porque não tinham vinha para servir aos seus convidados: “Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: “Eles já não têm vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, e o que eu tenho com tuas preocupações? Minha hora ainda não chegou”. Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: “Enchei as talhas de água”. Eles encheram-nas até em cima. Tirai agora” – disse-lhes Jesus – “e levai ao chefe dos serventes”. E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo, e disse-lhe: “É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora”. 11.Esse foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. (São João 2. 3-12)
A intercessão, porém, da Rainha da Antiga Aliança, no reino na terra, era imperfeita, pois ela não tinha como discernir espiritualmente se os pedidos dos súditos que ela levada ao rei eram bons, justos e glorificavam o rei em sua misericórdia. Tanto, que Adonias desejava casar-se com uma serviçal do rei, para ficar mais próximo dele, matá-lo e usurpar-lhe o trono. Mas a intercessão da Rainha na Nova Aliança é perfeita, pura e santa, porque assim é a Rainha do céu, que só leva ao filhos, as súplicas justas e boas, para que seu filho seja glorificado em sua misericórdia, como nas Bodas de Caná.