1 – Sendo Deus amor, parece que o amor não é Deus, pois uma coisa é a pessoa; outra os atributos que ela possui, sendo o amor um atributo de Deus, e não sua Pessoa.
2 – Sendo um atributo ou qualidade, é possível existir o amor sem Deus ou desvinculado de Deus, pois muitos amam sem conhecer a Deus, e muitos que o conhecem não amam.
MAS EM CONTRÁRIO:
AQUELE QUE NÃO AMA NÃO CONHECE A DEUS, PORQUE DEUS É AMOR. (I São João 4.8); EU SOU O QUE SOU.” (Êxodo 3.14)
SOLUÇÃO: Conforme a sagrada Tradição, as Escrituras e o Magistério da Igreja, não são os atributos de Deus, senão a sua própria essência.
Assim, Deus não é misericordioso: Ele É a misericórdia.
Ele não é poderoso: Ele É o Poder soberano.
Ele não é piedoso: Ele É a própria Piedade.
Ele não é bondoso: Ele É a própria Bondade.
Ora, Deus, sendo puro ato, e não tendo em si matéria, composição ou potência, como criador, causa única, primeira e última de todas as coisas, nada lhe pode ser acrescentado, retirado ou atribuído. E sendo ato puro[1], em todas as suas ações está contida verdadeiramente sua Pessoa em sua plenitude.
Atributo, no âmbito, das criaturas é tudo aquilo que lhes agrega.
Mas não podemos emprestar esse conceito aos atributos de Deus.
Nele não há atributos finitos, recebidos ou agregados por participação em alguém ou alguma coisa que não seja ele, porque antes, durante, depois e além dele não há nada que subsiste e do qual algo provenha.
Deus é Pessoa no sentido completo da perfeição, e no seu ser há a própria personificação de todas as virtudes existentes, e nada há que lhe possa ser agregado ou tirado. Por isso, os atributos infinitos de Deus, como a Piedade, Caridade, Sabedoria, AMOR, Justiça, Poder, Autoridade, Misericórdia, Graça e outros, são os seus NOMES.
“EU SOU O QUE SOU.” (Êxodo 3.14)
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- 220 O amor de Deus é eterno (Is 54,8): “Os montes podem mudar de lugar e as colinas podem abalar-se, mas o meu amor não mudará” (Is 54,10).
- 221 Mas São João vai ainda mais longe ao afirmar: DEUS É AMOR. (1 Jo 4,8.16)
O PRÓPRIO SER DE DEUS É AMOR.[2]
Por esta razão ainda, que DEUS é também o AMOR personificado, e sendo Deus o próprio Amor, a recíproca é autêntica, pois o AMOR é Deus, no que então se responde as questões.
1 – Em se tratando da pessoa humana que é incompleta, imperfeita e finita, certos atributos não fazem parte da sua essência, pois são virtudes que lhes são acrescentadas e construídas ao longo da vivência. E não estando na essência humana, é certo que qualquer atributo poderá ser perdido, assim como também poderá regredir, estagnar ou progredir. Todavia, em se tratando da Pessoa Divina, perfeita, completa e infinita em suas virtudes, os seus atributos são a sua própria essência pessoal, assim IMUTÁVEIS posto que ETERNOS:
“O MEU AMOR NÃO MUDARÁ.” (Isaías 54,10)
“EU TE AMEI COM UM AMOR ETERNO.” (Jeremias 31, 3)
Sendo o Amor, Deus, este Amor não existirá nos seres humanos, exceto naqueles que estão firmemente apegados à ele. Em nós, os atributos Divinos são trazidos potencialmente na alma que Deus nos infundiu quando nos criou, e pela qual nos imprime o seu caráter e sua personalidade.
Em suma, o amor enquanto atributo na criatura é algo derivado de algo maior que é Deus, sendo, portanto, recebido em participação nele, quando ele passa habitar em nós, e nós nele.
Já o atributo do Amor em Deus é infinito, eterno e imutável porque o seu atributo é o seu próprio ser, sua própria Pessoa, não provindo da participação em nada, nem em ninguém, por ser ele próprio, o Amor, Deus.
2 – Há os que pensam e dizem estar com Deus, mas não tem hábito da prática do amor que transcende ao indivíduo, ao tempo e as ocasiões. E se não amam, enganam-se a si próprios porque não pertencem a Deus, pois o trazem apenas no intelecto, não em seus atos, condutas ou atitudes. Se Deus é amor, nenhum ato de desamor pertence a Deus ou Deus nele está contido.
Também há os que não conhecem intelectualmente a Deus, mas o souberam reconhecê-lo nas práticas de amor. Estes estão com Deus, são de Deus, e Deus os tem, ainda que pela ignorância vencível ou invencível não saibam disso.
Em todo universo, inexiste amor senão em Deus, e naquilo que provenha de Deus, que é a única fonte de todo Bem, e por consequência, única fonte de todo Amor:
“NINGUÉM JAMAIS VIU DEUS; SE NOS AMAMOS UNS AOS OUTROS, DEUS ESTÁ EM NÓS. E EM NÓS O SEU AMOR É PERFEITO. (1 S. João 4:12)
“AMEMOS UNS AOS OUTROS PORQUE O AMOR É DE DEUS; E QUALQUER QUE AMA É NASCIDO E CONHECE A DEUS.” (1 S. João 4:7)
Já sobre o Deus que é amor, e o Amor que é Divino, esclareceu Santo Tomás de Aquino:
“O AMOR DO SUMO BEM CONVENIENTE APERFEIÇOA E MELHORA O SER QUE AMA; AO PASSO QUE O AMOR INCONVENIENTE LESA AQUELE QUE O USA PARA AMAR, TORNANDO-O PIOR, POR ONDE O SER HUMANO SE APERFEIÇOA E MELHORA PELO AMOR DE DEUS, E SE LESIONA E PIORA PELO AMOR AO FALSO AMOR, SE TORNANDO DEPLORÁVEL TANTO QUANTO AS COISAS DEPLORÁVEIS QUE ELE AMOU.” (Suma Teológica, Q 26 art. 5 Livro Ia e IIae)
Como dito, são exemplos desse amor inconveniente, também chamado egocentrismo ou egoísmo:
“O AMOR AO DINHEIRO é a raiz de todos os males.” (I Timóteo 3.10)
“Ó poderosos, até quando tereis o coração endurecido, no AMOR DAS VAIDADES e na busca da mentira?” (Salmo 4,3)
[1] AQUINO. Santo Tomás. Suma Teológica. Livro Ia. Tratado do Deus Uno. Q. 3.
[2] D.14.19 Nomes e atributos de Deus. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.