1 – Se Cristo morreu por nossos débitos, deduzimos que não nos cabe reparar o mal que praticamos contra Deus e ao próximo, pois o mal pessoal só se repararia pelo sacrifício universal da cruz.
2 – No mais, a redenção nos isentou das penas, e se não há pena, não há débito, sendo inúteis a consciência e detestação dos erros, tanto quanto a confissão e penitência nas quais esses erros são reparados.
3 – Por fim, sendo o sacrifício de Cristo a satisfação completa e adequada do pecado, se apenas crermos nisso, permaneceremos com direito à vida eterna, independente das más ações não reparadas.
MAS EM CONTRÁRIO:
Só após ZAQUEU, o corrupto coletor de impostos, o qual hospedava Jesus, ter confessado que lesou aos pobres e que venderia seus bens adquiridos na desonestidade para doar aos famintos e indenizar aqueles a quem lesou, é que Cristo lhe diz:
HOJE ENTROU A SALVAÇÃO NESTA CASA.” (São Lucas 19. 8 e 9)
SOLUÇÃO:
A penitência, ao lado da caridade e da oração, são os meios mais eficazes para recebermos de Deus o perdão que purifica nossas almas.
Não por acaso, Jesus inaugurou sua pregação pública, convidando-nos de viva voz, todos os pecadores à penitência:
[…] FAZEI PENITÊNCIA, PORQUE ESTÁ PRÓXIMO O REINO DOS CÉUS.” (São Mateus 3.2)
Penitência é a virtude do arrependimento, que une num só ato, a justiça e a misericórdia, reparando os efeitos do mal que cometemos, para que as consequências malévolas do pecado já perdoado não ganhem longevidade, e se projetem no futuro em novos pecados.
A misericórdia de Deus não exclui sua justiça.
Antes, as conciliam no arrependimento e nos atos reparatórios que são a extensão do sacrifício de Cristo em nossas vidas, e assim, são santificados pelo sacrifício maior.
Reparar o mal que cometemos nos une ao sacrifício de Jesus que é o ato maior de reparação de todos os pecados.
A nossa penitência de reparação e o sacrifício de Jesus, fundem-se num só ato, numa única cruz:
“JÁ ESTOU CRUCIFICADO COM CRISTO,” (Gálatas 2.20)
Ora, o ladrão precisou devolver o que roubou, para que sua confissão fosse aceita, pois, se desejava o perdão, mas não devolver o que usurpou, é porque são mentirosos, tanto o arrependimento, quanto a confissão.
A validade do perdão cobra daquele que pretende absolvição, a vontade para anular os efeitos do mal praticado, para que a indulgência de Deus lhe seja plena.
O verdadeiro arrependimento exige que busquemos reparar o mal que cometemos, seja de maneira direta, desfazendo-o; ou isto não sendo mais possível, de modo indireto, praticando uma bondade que o compense.
Penitência é sinônimo de arrependimento eficaz[1] e implica retornar à justiça anterior, sendo o movimento contrário ao prejuízo causado, no que se responde as questões.
1 – A obra da redenção é a restauração completa do ser humano, outrora desfigurado pela transgressão, devolvendo-lhe a dignidade necessária para que seus atos, ações e atitudes, outrora rejeitadas pelo pecado e culpa, sejam benditas e recebidas por Deus, por buscarem a JUSTIÇA DIVINA como principal propósito.
O sacrifício de Cristo não nos devolve apenas os bens que só podemos obter exclusivamente pelos seus atos reparatórios na cruz, como a vitória sobre a morte; a isenção da culpa universal; a felicidade e a vida eterna.
Devolve também, aqueles bens que Cristo conquistou para serem partilhados e participados conosco, como a consciência da transgressão; o arrependimento; a confissão e a reparação dos efeitos nefastos do mal praticado, como aconteceu com Zaqueu.
Por isso, cabe ao pecador, junto com Cristo, se arrepender, pois sem Cristo ele não será capaz de se arrepender; ou seu arrependimento será imperfeito e ineficaz, posto que desprovido da consciência ou desejo de reparar o mal praticado.
Logo, ao confessar nossos pecados, devemos estar dispostos à reparar a lesão que o pecado causou:
TENHAM, POIS, UM ARREPENDIMENTO VERDADEIRAMENTE FRUTUOSO.” (São Lucas 3. 8)
PORQUE O FRUTO DO ESPÍRITO ESTÁ EM TODA BONDADE, JUSTIÇA E VERDADE; (Efésios 5.9)
2 – O ser humano vive primeiro no tempo, para só após viver na eternidade, sendo certo, então, que haverá as penas temporais e as eternas.
O sacrifício de Cristo isenta das duas espécies de penas, mas de modo diferente.
Ele quitou sozinho, na cruz, a pena da morte eterna que nos vinha pela excomunhão universal com Deus.
Quanto aos delitos pessoais que cometemos na vida temporal, ele nos convida a tomarmos a nossa cruz, e uni-la à cruz dele para que nossa cruz e a dele sejam uma só:
“SE ALGUÉM QUISER VIR COMIGO, RENUNCIE A SI MESMO, TOME SUA CRUZ E ME SIGA.” (São Mateus 16, 24)
Na nossa cruz, unida à de Cristo, é que encontramos o arrependimento, a confissão e a penitência.
3 – Cristo, em seu sacrifício UNIVERSAL, restituiu a dignidade aos nossos atos PARTICULARES de bondade.
Porque Cristo reparou a culpa universal da humanidade, é que agora, cada indivíduo, componente dessa humanidade, é capaz de não apenas se resguardar do mal, mas reparar os efeitos do mal que praticou.
Apenas a fé é inútil à perfeição do arrependimento, pois o remorso não deve ser manifestado apenas por palavras.
Não podemos obter o perdão por ter negado comida ao faminto, sem que após perdoado, não o procuremos com uma refeição que lhe sacie a fome, ou isto não sendo possível, que nos comprazamos em buscar matar a fome de outros que se encontrem na mesma situação.
Igual modo, o pecado espiritual, invisível, como a ofensa, o mal querer e o ódio, devem ser reparado por meio da oração aqueles que ofendemos, malqueremos e odiamos:
“[…] SE DEPOIS DE ADVERTIDO, NÃO SE CORRIGIR DA MALÍCIA E DA PERVERSIDADE, ELE PERECERÁ POR CAUSA DO SEU PECADO.” (Ezequiel 3. 19);
[…] NÃO TE DEIXES VENCER PELO MAL, MAS TRIUNDA DO MAL COM O BEM.” (Romanos 12. 21)”
Somente fé, sem os frutos da penitência, não nos concede direito ao perdão, pois como dito:
PRODUZI, POIS, FRUTOS DIGNOS DE ARREPENDIMENTO;” (São Mateus 3:8)
[1] Penitência no grego é expressa pela palavra metanóia (μετανοίας), e, implica retornar à justiça anterior; sendo o movimento contrário ao prejuízo causado pelo delito.