1 – Parece que Deus não atua em todas as coisas, pois qual o propósito, daquele que é o Poder absoluto e supremo, gerenciar situações tão pequenas da existência cotidiana, como a folha que cai da árvore; a formiga que trabalha ou o ônibus que perdemos?
2 – No mais, difícil imaginar o soberano de todo universo se preocupando e ordenando trivialidades, como o resultado do futebol; interferindo no desenrolar de uma receita de bolo; ou determinando a falha na memória que decorra no esquecimento do pagamento do boleto bancário.
3 – Por isso, supõem alguns[1], que Deus deixou coisas ínfimas ao total arbítrio e controle do ser humano; ou então, ao acaso das circunstâncias que movem esses acontecimentos.
4 – Por fim, parece que não convém a Deus se ocupar com questões aparentemente sem qualquer relevância.
MAS EM CONTRÁRIO:
[…] até os cabelos de vossa cabeça são contados. (São Lucas 12.7);
“Deus governa essencialmente todas as coisas, ainda que minimamente em suas particularidades. ” (Suma Teológica. Santo Tomás de Aquino. Q 104. Do Governo das Coisas em Comum. art. 6° Livro Ia)
SOLUÇÃO:
Os teístas ensinam que há situações em que Deus simplesmente se omite, deixando acontecimentos e ações humanas ao talante do acaso.
Ora, tal pensamento é equivocado, pois conflita com a sentença que o próprio Deus proclamou de si:
“HÁ UM SÓ DEUS, PAI DE TODOS, QUE É SOBRE TODOS, POR TODOS E EM TODOS. (Efésios 4. 6)”
Ao superior incumbe toda regência e interferência sobre os inferiores.
Por conta disso, Ele pode agir, como efetivamente age em tudo, e em todos.
Só por meio de Deus, que todas as coisas existem.
E estas, não lhe devem apenas o início, mas também a continuação de sua existência.
Se Deus não estivesse na folha que cai, não existiria a folha, nem a árvore.
Se não estivesse na condução que perdemos, não existia a condução, nem nós, nem o tempo que nos gerou o atraso, para algum propósito que a princípio, não sabemos ou só nos é revelado tempos depois.
Se não estivesse na abelha que poliniza a flor, não existiria a flor, nem a abelha, nem o tempo gasto por ela, nem o mel como resultado do seu labor, razão porque :
“[…] tal é o efeito de Deus nas coisas, não somente quando começam a existir, mas enquanto subsistem; logo, é necessário que Deus esteja intimamente em todas as coisas. ” (Suma Teológica. Santo Tomas de Aquino. Q 8 Da Existência de Deus, art. 1° Livro Ia), no que se responde as questões.
1 – Todos os fatos da existência humana, e todos os elementos da criação são úteis para nos conduzir até Deus.
Estar nas coisas mínimas, regendo-as por sua vontade soberana, não diminui sua grandeza, e sim, eleva as coisas singelas a nobilíssima condição de instrumentos para conferir ao ser humano a consciência da existência Divina, e da necessidade D’ele em nossas vidas.
Até na existência da mais singela das criaturas, Deus atua, por exemplo, para nos mostrar a dignidade do trabalho honesto para o sustento diário:
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, e observa o seu proceder para tornar-te sábio como ela. (Provérbios 6. 6)”
2 – Deus a tudo governo por uma regência perfeita, e toda regência perfeita tem propósito nobre.
Uma receita de bolo que não deu certo deveria exprimir em nós a consciência da nossa limitação, porque sem a cooperação Divina não somos capazes de nada.
Noutro ângulo, o acerto deveria infundir-nos a consciência de que apenas nos alimentamos por sua bondade e misericórdia.
O esquecimento em pagar de um boleto bancário deve nos incutir a consciência de que somos falíveis, envelhecemos, que não nos é dada a perpetuidade da vida eterna.
E ainda, que nosso fim se aproxima dia após dia, razão pela qual, necessitamos cotidianamente estabelecer uma comunhão com o nosso Criador, fonte única e universal de toda vida.
Assim é em relação a todos os fatos rotineiros, como perder a condução que poderá nos evitar um acidente trágico.
Devemos buscar o sentido transcendente em todas as coisas, mesmos as aparentemente desimportantes.
3 – Se Deus não governasse tudo, naquilo que ele não governa haveria o caos total e absoluto.
Tivesse deixado algo, por menor que fosse ao governo do ser humano ou ao talante do acaso, tudo se desgovernaria e se autodestruiria em segundos.
Deus é eterno e onipresente, e o que é eterno está em todos os tempos, ao mesmo tempo, e o que é onipresente está em todas as coisas porque não se divide.
Por isso, ele está em tudo que é finito e infinito; corpóreo ou incorpóreo; visível ou invisível, no tempo e na eternidade, do que é dito:
“[…] para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa. ” (Salmo 139. 7 à 12)
“Porventura, não sou Eu que encho os céus e a terra? (Jeremias 23. 24)
“Deus está em todos os lugares. O indivisível é permanente, e não pode estar nas coisas (criação) em partes, senão em todos os lugares. ” (Suma Teológica. Santo Tomas de Aquino. Q 8 Da Existência de Deus, art. 2° Livro Ia)
4 – Estando Deus em todas as coisas, não há no universo criado nada que seja irrelevante. Deus existe em todas as coisas, estando nelas como aquele que age sobre elas:
“Porque nele vivemos, nos movemos e existimos.” (Atos 17.28)
[1] Teísmo é uma filosofia de natureza gnóstica que defende que Deus fez todas as coisas, mas não as governa. Defendem ainda que ele não seria Onipotente, Onisciente e Onipresente no universo criado. Defendem seus adeptos, que Deus pode mudar de ideia, bem como, alterar seus planos uma vez que Ele não tem o poder de conhecer o futuro, um de seus adeptos é o pastor Richard Rice, em seu livro “A Abertura de Deus: A Relação entre a Presciência Divina e o Livre-arbítrio”.