1 – Todas as religiões buscam o encontro entre o ser humano e Deus, do que poderíamos considerá-las todas válidas e úteis.
2 – No mais, se toda religião é a busca por Deus, podemos crer que Deus, de certo modo está em todas as religiões praticadas por corações que procuram com sinceridade o amor que vem da Divindade, como disse o apóstolo Tiago, que era cristão: “[…] a verdadeira religião consiste visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições.”1
3 – Por fim, se tem uma parte de Deus em todas as religiões, então Ele não pode estar exclusivamente numa única religião, e assim, nenhuma delas teria monopólio da verdade Divina, tanto que a Divindade, ao que parece, não criou, não fundou, e nem instituiu qualquer religião.
MAS EM CONTRÁRIO, o ser humano por si só não é capaz de encontrar Deus, o qual também não pode ser buscado ou achado nas coisas censuráveis, falsas ou impuras, e é sempre Ele, o único que pode conduzir o indivíduo ao seu encontro, como disse o sábio: “[…] PROCURAI-O NA SIMPLICIDADE DO CORAÇÃO, PORQUE ELE É ENCONTRADO PELOS QUE NÃO O TENTAM,2E SE REVELA AOS QUE NÃO LHE RECUSAM SUA CONFIANÇA.” (Sabedoria 1, 1, 2)
SOLUÇÃO: Nas religiões pagãs criadas por homens, é sempre o ser humano quem procura ir ao encontro da Divindade. Todavia, só o Cristianismo revelou que o ser humano não poderia ir a Deus, sem que antes, o próprio Deus viesse a humanidade, pois como dito, “[…] o mundo, por meio de sua própria sabedoria, não poderia jamais reconhecê-lo.”3 Só no Cristianismo, Deus se oferece ao homem, e, para isso se humilha, sofre, torna-se menor e morre para que a humanidade possa se reencontrar com a Divindade. A religião de Deus é a oferta de Deus para os homens, ao passo que as religiões dos homens é a oferta do homem para Deus, oferta esta imperfeita, inútil, insuficiente e incapaz de nos revelá-lo, e de nos unir a Ele, porque[…] Deus não pode ser revelado nas ações da inteligência e da boa vontade humana,4” no que se responde as questões acima.
1 – As religiões fundadas por homens partem do suposto de que para alcançar a amizade com a Divindade, basta ao indivíduo alegrá-la e satisfazê-la com agrados consistentes em bens e tesouros, ou ofertas de boa comida, vidas humanas, vida animal, devoção cega, enfim, com os pertences mais valiosos, como se dissesse a Divindade: “[…] agora, pelo mérito da minha oferta, tornei-me merecedor da vida divina.” Mas não há mérito natural na raça humana para torná-la merecedora do convívio eterno junto ao ser supremo, razão porque, para sermos dignos de Deus, era necessário que Deus se tornasse um de nós, nos viesse, e partilhasse conosco seus méritos. Caim ofertou a Deus, o sacrifício da colheita de sua lavoura, formada por seu próprio dom e mérito, na esperança vã que pelo engenho e idoneidade do seu trabalho, pudesse convencer Deus a conviver com ele, numa relação paternal: “Ofereceu Caim, os frutos da terra em sacrifício ao Senhor. Mas o Senhor NÃO OLHOU PARA SUA OFERTA, NEM PARA OS SEUS DONS.” (Gênesis 4. 3 -5) Sentido oposto, seu irmão Abel reconhecendo que nada tem, pode e dispõe para ofertar dignamente em troca da amizade com Deus, ofereceu um cordeiro escolhido dentre os mais perfeitos dos primogênitos do seu rebanho, simbolizando os méritos de Cristo, obtendo nisso, a amizade com Deus, e por consequência, a vida eterna ao seu lado: “Abel, de seu lado, ofereceu dos PRIMOGÊNITOS DO SEU REBANHO, e o Senhor OLHOU COM AGRADO para Abel e sua oferta.” (Gênesis 4.4) A fé de Caim, que dá origem ao paganismo posto que baseada em mérito humano, não pôde promover o encontro dele com Deus. Abel, cuja fé o tornaria o primeiro Patriarca da religião cristã, fora agraciado com vida eterna, do que podemos compreender que nem toda religião nos liga ao verdadeiro Deus.
2 – Também é dito que a verdadeira religião é a que purifica e santifica o ser humano diante de Deus, conduzindo-o à perfeição, tornando-o melhor a cada dia. Muitos fazem boas obras mesmo não tendo religião, do que não se pode concluir que a verdadeira religião esteja justamente na ausência de religião, posto que isso seria contraditório. Para nos santificar e purificar, é necessário que tais ações de bondade se realizem por meio da fé e da verdade, verdade esta, a qual podemos definir, como sendo a realidade Divina aplicada as realidades humanas, que nos coloca a salvo das falsidades e corrupções do mundo. Por isso, São Tiago complementa: “A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, E CONSERVAR-SE PURO DA CORRUPÇÃO DESTE MUNDO.” (São Tiago 1, 27)
3 – Não há como entender que a verdade de Deus esteja em todas as religiões, se as “verdades” das religiões se contradizem. Como ousaríamos dizer que todas as religiões formam um todo, quando por suas próprias ideias sobre Deus, elas não se unem? Só existe um Deus, e, portanto, só poder haver uma verdade religiosa autêntica que vem dele, e por Ele já revelada ao mundo, sendo necessário que a encontremos, dentre as várias crenças e deuses. Por isso, restou dito: “Cessai de confiar no homem,” (Isaías 2, 22) “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: DEUS CONOSCO. (São Mateus 1, 23)” Criar e fundar religiões é próprio do ser humano, por meio dos seus pensamentos, ideais e filosofias. Mas a religião autêntica está nas realidades criadas pela Divindade, nas quais a criatura poderá conhecer, e interagir com seu criador, como ensinou o profeta,5 de onde é dito que Cristo é a sabedoria (Verbo) de Deus, que regrediu a condição humana, tornando-se homem para ser conhecido dos homens, sendo Deus que veio a humanidade, para que a humanidade pudesse ir novamente a Deus:6
“No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus, e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.” (São João 1. 1-14)
Por isso, podemos seguramente dizer, que a verdadeira religião é a ENCARNAÇÃO DO VERBO, que pelo mérito de sua paixão, quando morto na cruz, do seu lado manaram as realidades sagradas e sacramentais da água do Batismo, no qual se aplica ao renascimento da nova humanidade, sem a culpa do pecado; e do sangue Eucarístico, no qual se aplica à Nova Aliança do ser humano com Deus, sem o peso do pecado, remido no sangue do sacrifício da cruz.
1 São Tiago 1. 27
2“O mundo não o conheceu (Jo 1. 10)
3 AGOSTINHO. Santo. A Doutrina Cristã. vol II. Cap. 12. p. 38.
4 AGOSTINHO. Santo. A Doutrina Cristã. vol II. Cap. 13. p. 38/9.
5 “Povos, escutai bem! Nações, prestai-me atenção! Pois é de mim que emanará a doutrina e a verdadeira religião que será a luz dos povos.” (Isaías 51, 4)”
6 “Essa religião guarda e santifica o coração; ela lhe traz satisfação e alegria. (Eclesiástico 1, 18) ”