CRISTO ELEVOU O PAPEL E A CONDIÇÃO DA MULHER NASCENDO DE MARIA?

1 – Parece que ser concebido, gerado e vir ao mundo por meio da Virgem nada contribuiu para elevar a condição e o papel da mulher no plano de Deus, pois, a humanidade de Cristo tomada de sua mãe1 é na forma de homem, tanto que Jesus é o novo Adão.2

2 – Ademais, tudo indica que a mulher sofreu mais a severidade da Justiça Divina, pois, das penas após o pecado, coube a ela ficar submissa ao homem: “(…) teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.”3

3 – Soma-se, que a suposta predileção de Deus pelo gênero masculino se reflete em que só a este foi dado o sacerdócio, não permitindo que mulheres exercessem autoridade eclesiástica sobre homens, mas que deles recebessem toda instrução da fé.4

MAS EM CONTRÁRIO:

FOI NO VENTRE DE UMA MULHER QUE O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, O DEUS FEITO HOMEM, ESCOLHEU BATER PELA PRIMEIRA VEZ.

SOLUÇÃO:

O ventre da mulher fora escolhido por Deus para ser a fonte da qual emanaria sobre a terra o Amor mais sublime na pessoa de Jesus Cristo.

Tal realidade nos leva meditar a respeito da participação que o sexo feminino por meio da Virgem teve na maior manifestação pessoal de Deus na história:

“E O VERBO ERA DEUS (…) E O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS (…) E VIMOS SUA GLÓRIA. (São João 1.1-14)

Cristo, além de nascer, foi alimentado, amado, cuidado e protegido por uma mulher, enquanto criança.

Nisso, Deus manifestou seu amor e respeito a todas elas representadas em Maria, honrando o sexo feminino ao lhe incumbir como gerador e guardião do seu Filho Divino.

O vínculo que Deus estabelece com a Virgem, e por meio desta com o gênero feminino, marca a elevação da condição e papel da mulher não só na família ou na sociedade, mas também na Igreja, quando vemos no Livro de Atos, a menção honrosa a Maria, presente na assembleia5 onde todos se reuniam para escolha do substituto do traidor Judas, no que se responde as questões:

1 – Convinha a justiça, que Cristo vindo ao mundo como homem, tomasse sua natureza carnal da mulher para que os dois sexos fossem prestigiados no plano da salvação:6 

(…) OUVI, CASA DE DAVI. O SENHOR VOS DARÁ UM SINAL: UMA VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ À LUZ UM FILHO, E O CHAMARÁ DEUS CONOSCO.7

Se o pecado veio por meio do homem (Adão), e da mulher (Eva),8ambos haveriam de participar do plano de reparação desse pecado:

(…) O VERBO APARECEU ENTRE OS HOMENS, COMO VERDEIRO HOMEM. CONVINHA QUE ASSUMISSE A MESMA NATUREZA A SER REDIMIDA. E PARA QUE NENHUM SEXO JULGASSE SER PRETERIDO PELO CRIADORHUMANIZOU-SE EM FORMA DE VARÃO, NASCENDO DA MULHER.” (Santo Agostinho. Século I. Da Religião Cristã. p. 39, Ed. Paulus. Cap. XVI. Dos Benefícios da Encarnação do Verbo)

Se Eva foi a porta pela qual entrou no mundo o pecado e a morte; a nova mulher, Maria, é a porta pela qual entrou no mundo o Salvador e a vida eterna.

E se do ventre da antiga mulher, contaminado pelo pecado, nasceu a humanidade pecadora; foi do ventre isento de mácula da nova mulher, que nasceu a humanidade incorrupta de Cristo, eternamente unida à Divindade, pela qual nos é possível quitar a corrupção e o pecado para renascermos à vida eterna.

Sendo a Igreja o CORPO DE CRISTO, e tendo Maria gerado o corpo de Cristo, tornou-se também a Mãe da Igreja, título que Cristo lhe confere, apontando-lhe o Apóstolo João, o qual representava os filhos da Igreja:

(…) MULHER, EIS AI TEU FILHO. FILHO, EIS AI TUA MÃE.9

Se em Eva, a velha serpente amaldiçoou o ventre, Deus então, partindo de Maria, santifica o ventre de todas as mulheres para que gerem aos que herdarão os céus pelos méritos do Filho da Mulher que os homens crucificaram.

Em Maria, Deus reconstrói o nome de Eva e o recoloca em condição de honra e dignidade, pois, se através desta, todas as mulheres foram humilhadas pela astúcia da serpente, Maria, tornada a Mãe de Deus, impôs à serpente grande humilhação:

A MINHA ALMA ENGRANDECE AO SENHOR, E O MEU ESPÍRITO SE ALEGRA EM DEUS, O MEU SALVADOR, POIS ATENTOU PARA A BAIXEZA DA SUA SERVA. PORTANTO, DE AGORA EM DIANTE, TODAS AS GERAÇÕES ME CHAMARÃO BEM-AVENTURADA, PORQUE O PODEROSO FEZ GRANDES COISAS EM MEU FAVOR.” (São Lucas 1. 46-55)

As maravilhas que Deus lhe fez devolveu a grandeza a todas as mulheres:

Assim como EVA FOI SEDUZIDA PELA FALA DE UM ANJO E SE AFASTOU DE DEUS, transgredindo a sua palavra, MARIA RECEBEU A BOA NOVA DA BOCA DE UM ANJO E TROUXE DEUS EM SEU VENTRE, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra se deixou persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, começou a ser libertado dela por outra; e a desobediência de uma mulher foi contrabalançada pela obediência de uma outra mulher. E assim, o pecado do primeiro homem foi curado pela correção de conduta do seu Primogênito e a prudência da serpente foi vencida pela simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos que nos sujeitavam à morte.” (IRINEU, Santo. Contra as Heresias. V, 19,1, p. 569, anos 107-120)

2 – Em Cristo, a glória de Deus se manifesta fazendo tudo novo, elevando à perfeição o que na lei velha era imperfeito.10

Por causa do amor de Cristo na cruz, muitas leis punitivas antigas caíram em desuso e caducaram, não tendo mais o menor sentido.

Uma delas é da submissão feminina ao homem, a qual nunca foi desejo ou plano de Deus, mas consequência da justiça sobre os atos de Eva:

O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso? Ela respondeu-lhe: A serpente enganou-me – respondeu ela – e eu comi (do fruto proibido). Então Deus lhe diz: ‘(…) teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”. (Gênesis 3, 13 e 16)

Em contrapartida, Cristo, o próprio Deus feito homem, se colocou voluntariamente submisso à autoridade de uma mulher, sua Mãe, até atingir a fase adulta:

E, REGRESSANDO ELES, TERMINADOS AQUELES DIAS DE FESTA, FICOU O MENINO JESUS EM JERUSALÉM, E NÃO O SOUBE JOSÉ, NEM SUA MÃE. E DESCEU COM ELES, E FOI PARA NAZARÉ, E ERA-LHES SUJEITO. E SUA MÃE GUARDAVA NO SEU CORAÇÃO TODAS ESTAS COISAS.’ (São Lucas 2,43 e 51)

Se o novo Sacerdócio tomou lugar do velho; a Lei Nova tomou lugar da antiga:

E, QUANDO MUDA O SACERDÓCIO, A LEI TAMBÉM MUDA.” (Hebreus 7, 12)

Assim, revogou-se a lei da submissão, rompendo-se a humilhante sujeição da mulher ao homem, pois agora, próprio Deus feito homem, dela se tornou dependente desde o ventre; e lhe foi sujeito até certa idade, como está em Lucas e nas profecias: 

POIS DEUS CRIOU UMA COISA NOVA NA TERRA: UMA MULHER PROTEGE UM VARÃO.” (Jeremias 31,22)

Cristo, o Deus feito homem, que nasceu da mulher, também ao ressuscitar se mostrou primeiro a um grupo delas.11

Ora, as principais operações de vida humana em Cristo, quais sejam, nascer e renascer da morte, tiveram mulheres como participantes ou testemunhas.

Nele formamos uma só humanidade, numa nova realidade sem distinção, acepção, superioridade ou supremacia de um grupo contra outro:

(…) PORQUE TODOS QUANTO EM CRISTO FOSTES BATIZADOS, DE CRISTO VOS REVESTISTES. E JÁ NÃO HÁ JUDEU NEM GREGO, ESCRAVO OU LIVRE, HOMEM OU MULHER PORQUE VÓS SOIS UM SÓ EM CRISTO.” (Gálatas 3, 28)”

A “submissão” – se assim ainda podemos dizer – da mulher ao homem, em especial, ao marido –  perdeu o caráter punitivo que a colocada em situação análoga a escrava, incapaz de exercer livremente sua vontade, pensamento e voz, vindo a ser reconhecida como cidadã em sua dignidade pessoal.

Mulher e homem devem ser submissos ao modelo de vida de Cristo, e submissos entre si na mesma missão de conduzir o outro a paz que provém do amor.

Se Cristo (figura do marido), para conduzir sua Igreja (figura da mulher) à alegria da vida eterna, pagou com a própria vida, é dado aos esposos conduzirem as esposas a conhecer e participar dos bens espirituais necessários à salvação, no sacrifício do ego machista que os impede de respeitá-las de corpo e alma.

E, reciprocamente, é dado a mulher conduzir o marido a bondade por meio de sua inteligência, sensibilidade e por sua vocação à maternidade.

Por isso, a Lei Nova agora é:

SUJEITAI-VOS UNS AOS OUTROS NO TEMOR DE CRISTO.” (Efésios 5. 21),

Todas as razões em favor da submissão da mulher ao homem no matrimônio devem ser interpretadas no sentido de uma submissão de ambos no temor de Cristo. A medida do verdadeiro amor esposal encontra a fonte mais profunda em Cristo, que é o Esposo da Igreja, sua esposa; […] O autor da Carta aos Efésios não vê contradição alguma entre uma exortação formulada dessa maneira e a constatação de que « as mulheres sejam submissas aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher » (5, 22-23). O autor sabe que esta impostação, tão profundamente arraigada nos costumes e na tradição religiosa do tempo, deve ser entendida e atuada de um modo novo: como uma « submissão recíproca no temor de Cristo » (cf. Ef 5, 21); tanto mais que o marido é dito « cabeça » da mulher como Cristo é cabeça da Igreja; e ele o é para se entregar « a si mesmo por ela » (Ef 5, 25) e se entregar a si mesmo por ela « é dar até a própria vida. »Mas, enquanto na relação Cristo-Igreja a submissão é só da parte da Igreja, na relação marido-mulher a « submissão » não é unilateral, mas recíproca! “(Documento Pontífice – Mulieris Dignitatem, parágrafo XXIV. São João Paulo II. Ano 1.988)

3 – A inexistência de um sacerdócio feminino não inferioriza a mulher.

Ao contrário, restou instituído para reparar a dívida ancestral que os homens tem para com elas, desde de Adão.

Toda humanidade existente veio de Adão, inclusive, a de Eva, tomada de sua costela12.

Se pelo homem natural (Adão) a mulher nasceu para a vida natural (Eva), também para a vida espiritual a mulher haveria de ter nascido do homem, pois a leis naturais imitam as espirituais.

Mas isso não se deu.

Em sua desatenção, Adão não se faz presente para escudá-la e socorrê-la, enquanto interagia com o perigo de morte, representado na serpente.

No sacerdócio masculino, que vem do sacerdócio do Homem Eterno que é Cristo, Deus também reconstrói a dignidade do gênero masculino perdida em Adão, o primeiro homem, por ter negligenciado Eva, a primeira mulher, incumbindo assim, aos homens agora, não apenas a restauração social, mas também, a restauração espiritual das mulheres.

(…) O FATO DE MARIA SANTÍSSIMA, MÃE DE DEUS E MÃE DA IGREJA, NÃO TER RECEBIDO A MISSÃO PRÓPRIA DE APOSTOLO, NEM SACERDÓCIO, MOSTRA CLARAMENTE QUE A NÃO ADMISSÃO DAS MULHERES A ORDENAÇÃO NÃO PODE SIGNIFICAR UMA SUA MENOR DIGNIDADE, NEM DISCRIMINAÇÃO A SEU RESPEITO, MAS A OBSERVÂNCIA FIEL DE UMA DISPOSIÇÃO QUE SE DEVE ATRIBUIR À SABEDORIA DO SENHOR DO UNIVERSO.” (PAPA S. JOÃO PAULO II. Encíclica Ordinatio Sacerdotalis, 1.94)

O sacrifício de Cristo em favor de toda humanidade é também o sacrifício de Adão, o homem que falhou em sua relação de companheirismo para com a mulher.

Há, portanto, a reparação do antigo Adão pelo novo que é Cristo, pois, se pelo velho Adão, todos morremos, pelo novo todos acessaremos à vida eterna.


     

1 “Donde me vem esta honra de vir a mim A MÃE DE MEU SENHOR? (Lc 1. 42)

2 O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente (Gn 2,7); o segundo Adão é espírito vivificante.* (I Coríntios 15, 45)” 

3 A mulher ouça com espírito de submissão. (I Timóteo 2, 11)”

4 A mulher ouça a instrução em silêncio, (I Timóteo 2, 11)”

5 Todos eles perseveravam unanimemente na oração, com as mulheres, ENTRE ELAS. MARIA, MÃE DE JESUS, e os irmãos dele. (Atos dos Apóstolos 1, 14)” 

6 (…) JESUS, nosso Senhor, DESCENDE de Davi quanto à CARNE; (Rm 1, 3)

7 Isaías 7. 13 e 14

8 A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Gênesis 3.6)

9  Jo 19, 25-27.

10 Se Deus fala de uma aliança nova é que ele declara antiquada a precedente. Ora, o que é antiquado e envelhecido está certamente fadado a desaparecer. (Hebreus 8, 13)

11  Após ressuscitar,  Jesus aparece primeiro à Maria Madalena (cf. Marcos 16, 9), e depois, a algumas mulheres que estava próximo  à sua tumba. (cf. Mateus 28, 90), pedindo que elas testemunhassem aos Apóstolos que ele ressuscitou. Com isso, mais uma velha lei caiu em desuso, a lei que não considerava válido o testemunho público das mulheres. (cf. )

12 Gênesis 2, 22.

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